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Reinaldo Azevedo

Ao garantir a “neutralidade” do PSB, o PT busca inviabilizar a candidatura de Ciro; é um dos três eventos mais importantes da campanha de 2018

Reinaldo Azevedo

02/08/2018 07h37

A campanha eleitoral de 2018 teve, até agora, três eventos importantes: 1) a condenação de Lula em segunda instância, com a consequente prisão, o que o torna inelegível segundo a Lei da Ficha Limpa; 2) a adesão dos partidos do "Centrão" à candidatura do tucano Geraldo Alckmin, primeira etapa do esmagamento de Ciro Gomes, do PDT; 3) a captura do PSB pelo PT, o que fez com que os ditos socialistas se decidissem pela neutralidade na disputa, constituindo, então, a segunda etapa da ação anti-Ciro.

Quem tem memória registra. Quando necessário, o PT sabe ser truculento e atropela o que estiver à frente, incluindo os membros recalcitrantes da própria legenda. E quem decide ser seu parceiro de luta acaba fazendo o mesmo. Desde sempre, estavam na mesa algumas peças importantes das disputas regionais. Paulo Câmara, do PSB, atual governador de Pernambuco, precisa do apoio de Lula para tornar viável a sua reeleição. Os petistas haviam lançado o nome de Marília Arraes, que ficou sabendo pelo noticiário que candidata não seria mais. Em nome da neutralidade do PSB na disputa presidencial — vale dizer: para o partido não migrar para as hostes de Ciro —, o PT adere à candidatura de Câmara.

Em Minas, deu-se o movimento contrário. Aí foi a vez de o PSB não dar nem pelota para Márcio Lacerda, pré-candidato do partido ao governo. Cotado também para vice de Ciro quando os peessebistas discutiam a eventual aliança com os pedetistas, Lacerda chegou a rejeitar publicamente a possibilidade, deixando claro que sua pretensão era o Palácio da Liberdade. Também ele foi pego de surpresa. Agora, o PSB no Estado vai apoiar a reeleição de Fernando Pimentel, um dos operadores de Lula nesse acordo. Como prêmio de consolação, Lacerda pode ficar com uma das duas vagas na disputa pelo Senado. A outra, muito provavelmente, é da ex-presidente Dilma Rousseff. Com efeito, uma companhia e tanto.

Marília protestou. Lacerda protestou. Aqui e ali, quadros de ambos os partidos expressaram muxoxos de desagrado. E a coisa não deve ir muito além disso. Valores bem maiores se alevantaram.

A declaração de "neutralidade" do PSB foi a pior notícia que Ciro colheu nessa disputa — pior, em muitos aspectos, do que a refugada do dito Centrão. Nesse caso, a mistura de alhos com bugalhos lhe daria um bom tempo na televisão, mas também traria um potencial inequívoco de desgaste. Explicar a aliança pediria que se entrasse em meandros quase sempre incompreensíveis para amplos setores do eleitorado, como a questão da "governabilidade", por exemplo.

Já a parceria com o PSB era natural, orgânica até. E daria a Ciro um tempo no rádio e na televisão que seria fundamental. Afinal, por que ele é distinto de Geraldo Alckmin (PSDB), que levou o "Centrão"? E quais são as suas diferenças com as postulações petistas? Terá pouco mais de 30 segundos, se nada de novo acontecer, para explicar essas particularidades. Mais: a campanha perde capilaridade nos Estados; perde palanques.

Adicionalmente, há a peso político do isolamento. Parece evidente que, uma vez iniciada a campanha, o petismo avançará, de cara, no eleitorado de Ciro — que não terá como se defender das investidas. O pedetista é dono de uma retórica poderosa, contundente. Mas cadê o tempo para falar? Os debates na TV contarão com uma multidão de candidatos, o que também diminui as possibilidades de uma performance marcante a ponto de compensar os danos. De resto, Ciro não é um Jair Bolsonaro, que, na dúvida, manda metralhar, com sua vanguarda digital do atraso na retaguarda.

Encerro com um dado notável. Quando Lula não aparece nas simulações de voto, Bolsonaro lidera as pesquisas, em empate técnico com Marina, numericamente atrás. Ambos têm menos de 30 segundos no horário eleitoral e nenhum aliado. Ciro, em algumas simulações, empata tecnicamente com Marina. Também está sem parceiros, com pouco mais de 30 segundos.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.