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Reinaldo Azevedo

Meirelles se torna candidato com o apoio de 85% dos convencionais do MDB; ele discursou contra “salvadores da pátria” e “autoritários”

Reinaldo Azevedo

02/08/2018 16h36

Meirelles ovacionado durante a convenção do MDB (foto: divulgação)

A primeira parte da corrida com muitos obstáculos, vamos convir, Henrique Meirelles, agora candidato oficial do MDB à Presidência, enfrentou com notável desenvoltura. Na convenção desta quinta do partido, seu nome foi sufragado por 85% dos convencionais. Nem ele esperava marca tão expressiva. O rebelde senador Renan Calheiros (AL), aliado do PT em seu Estado e fora dele, prometia um discurso duro. Desistiu.

O mais rico dos candidatos — fortuna feita na iniciativa privada — pretende gastar o limite que a legislação permite na campanha (R$ 70 milhões), e parte considerável desse dinheiro deve vir de sua fortuna pessoal, o que é legal. O inequívoco "self-made man" entrou tardiamente na política — disputou seu primeiro cargo público em 2002, aos 57 anos, elegendo-se deputado pelo PSDB de Goiás. Renunciou para ser o onipotente presidente do Banco Central das duas gestões de Lula. A ele é atribuída a lua de mel que o petista viveu com o mercado financeiro. À sua saída do governo, muitos atribuem os desatinos dos dois mandatos de Dilma Rousseff.

No discurso em que assumiu a candidatura, Meirelles fez alusão a essa biografia singular. "O mundo não se divide entre quem gosta e não gosta do Lula e quem gosta ou não gosta do Temer, mas entre quem trabalha quando o Brasil precisa e quem não trabalha", afirmou.

Afirmou que o Brasil não precisa de "um messias, que veste uniforme de salvador da pátria", nem "de um líder destemperado". O Messias é Lula, embora Jair Messias seja Bolsonaro, que entra na formulação como o "líder destemperado". Meirelles mira, assim, o líder nas pesquisas de opinião, que não será candidato, e o ainda segundo colocado.

"Sempre que fui chamado, me coloquei a serviço do país. Quero ser o elo de reconstrução do espírito de confiança que deve contagiar o país", afirmou, numa alusão clara ao período em que esteve à frente do Banco Central. O candidato deu destaque a uma das ideias-força e sua postulação à Presidência, o "ProCriança". Segundo explicou na entrevista que me concedeu no programa é "O É da Coisa", trata-se de uma espécie de ProUni voltado para crianças pobres.

O presidente Michel Temer compareceu à convenção e fez um rápido discurso. Atacou os "candidatos sem propostas que vão para a baixaria. São pigmeus políticos. Nós não somos pigmeus políticos, o MDB é feito de gigantes".

O alvo principal, não é segredo para ninguém, é Ciro Gomes (PDT), que tem sido o mais duro crítico do governo Temer entre os postulantes com mais visibilidade. Ainda ontem, na entrevista à GloboNews, fez ataques muito contundentes à atual gestão e ao presidente em particular. O "pigmeu" é certamente uma alusão ao fato de que o pedetista, por enquanto, está isolado na disputa, sem ter conseguido se coligar com ninguém.

Para encerrar: no que concerne ao corte ideológico e à trajetória dos partidos, o lugar natural do MDB seria na grande coligação que hoje sustenta a candidatura Geraldo Alckmin. Mas o acordo não foi possível. A saída do PSDB da base de apoio ao governo e o fato de os tucanos, na Câmara, terem votado a favor das duas denúncias que Rodrigo Janot apresentou contra o presidente impediram a aliança. Com um tempo considerável no rádio e na televisão, o MDB decidiu ter seu próprio candidato. Por enquanto, também está sem parcerias. Os chamados "partidos da base" migraram para Alckmin. Sem composição, mas em fase de armistício, Temer não criou dificuldades para o tucano. Havia só um veto explícito: a composição com Ciro Gomes.

A sorte está lançada. Meirelles tem credibilidade, tem discurso e tem agenda. O peso está em ser identificado como o candidato de um governo impopular — impopularidade, reitero, injusta. Mas assim são as coisas.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.