PT anuncia Haddad como vice de Lula e acordo com o PCdoB; na prática, isso significa que o ex-prefeito será o candidato, e Manuela, a vice
Lula com Haddad: ex-prefeito vai assumir a titularidade da chapa assim que TSE bater o martelo
Fernando Haddad é o candidato do PT à Presidência da República, e Manuela D'Ávila, do PCdoB, será a vice. Mas, antes, o arranjo terá de obedecer aos tempos da Justiça Eleitoral. Vamos ver.
Neste domingo, um dia antes do fim do prazo estabelecido pelo TSE para que os partidos indicassem o nome do vice, o PT negociou freneticamente. No primeiro lance do dia, ficou definido que, atenção para a maluquice metódica!, o vice de Lula é mesmo Fernando Haddad. O que isso significa?
Que o substituto de Lula na chapa já está escolhido. Tão logo o nome do ex-presidente tenha o devido registro, o Ministério Público, ou algum outro ente dotado de legitimidade para isso, provocará o Tribunal Superior Eleitoral para que este bata o martelo: o chefão petista é inelegível, segundo a Lei da Ficha Limpa, porque condenado em segunda instância. E isso obrigará o PT a substituir o candidato. A vaga já tem dono: Fernando Haddad. Será ele o procurador do ex-presidente da disputa deste ano.
E, então, será posta em prática a segunda etapa da estratégia definida neste domingo.
Assumindo a titularidade na chapa, aí será a Haddad a estar sem o seu vice — ou a sua vice.
Depois de uma longa negociação, o PT quase alcançou a tal "unidade das esquerdas". Conseguiu fechar um acordo com o PCdoB, que decidiu retirar o nome de Manuela D'Ávila da disputa. Desde o começo, estava claro que o lançamento de sua candidatura estava sujeito a um eventual acordo com os petistas, que acabou se realizando.
O PCdoB decidiu fazer um acordo formal com o PT e terá o direito de indicar o candidato a vice-presidente da chapa que será encabeçada por Haddad. Muito provavelmente, será Manuela.
Os petistas cumprem assim o estranho prazo estabelecido pelo TSE, que determinou que os partidos ou coligações anunciassem seu vice até esta segunda, mas deixando definido o caminho para as futuras e necessárias correções de rumo.
Por enquanto ao menos, por óbvio, é proibido falar abertamente no PT que Haddad é que é o verdadeiro candidato do partido. A versão oficial, que estará na boca de todos os dirigentes e lideranças petistas, incluindo o ex-prefeito de São Paulo, é a de que o nome é mesmo Lula e de que força nenhuma será capaz de tirá-lo da eleição.
Do ponto de vista da articulação política, isso é verdade. Nem mesmo a cadeia o impediu de ser o principal negociador deste pleito, ao lado, justiça se faça, de Geraldo Alckmin, no outro lado da linha. No que concerne à titularidade da chapa, é evidente que os petistas nada podem contra a determinação da Justiça Eleitoral.
Vamos ver agora quanto tempo vai demorar para que a inelegibilidade de Lula seja declarada, o que deflagrará entre os petistas a campanha "Vote 13. Haddad e Lula; Lula e Haddad", acompanhada da devida peroração sobre a resistência política e a necessidade de dar uma resposta aos ditos "golpistas", que estariam fraudando a vontade do povo.
A questão, agora, consiste em conciliar fatores opostos e necessariamente combinados: manter Lula candidato o máximo de tempo é necessário para que se alimente a retórica da resistência; por outro lado, há que se considerar que é preciso tempo para que se opere a transferência de votos — para o eleitor de Lula, que lidera com folga as pesquisas de opinião, ser convencido a votar em Haddad.
Em tese ao menos, a Justiça Eleitoral tem até o dia 17 de setembro para declarar as inelegibilidades. Apesar do discurso oficial, segundo o qual "o candidato é Lula", os petistas torcem para que sua inelegibilidade seja declarada o quanto antes para que Haddad assuma, então, a titularidade da campanha e possa se apresentar como candidato à Presidência, com Manuela como vice.
