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Reinaldo Azevedo

Lula perto dos 40% dos votos no primeiro turno e Bolsonaro em 2º lugar são as mais vistosas obras da Lava Jato e de xucros incendiários

Reinaldo Azevedo

21/08/2018 07h38

É para valer. Pesquisas evidenciam que, como eu vinha alertando desde o fim de 2016, sob o protesto estridente dos boçais, a direita xucra e a Lava Jato conseguiram o que os idiotas, então, consideravam impossível, preferindo dar um tiro no mensageiro: Lula e o PT foram ressuscitados. Sim, quem lhes garante o poder de fogo é o povo. Não sei se há forças políticas, a esta altura, dispostas a substituir este que temos por um outro, que só existe no mundo das ideias de jerico. Se as eleições ocorressem agora e caso ele pudesse concorrer, Lula estaria na trilha no Palácio do Planalto, pela terceira vez.

No dia 17 de fevereiro do ano passado, escrevi em minha coluna na Folha:
"A indignação com a corrupção e os desmandos do PT degenerou depressa em moralismo tacanho, em ódio à política, em contínua depredação de procedimentos mesmo os mais corriqueiros da atividade. Se todos são mesmo iguais, então Lula é melhor."

Bem, meus caros, não conheço jeito mais honesto de exercer esse trabalho que não falar a vocês o que penso a partir dos dados que me fornece a realidade. Todos conhecem minhas preferências e gostos políticos. Mas eles não podem turvar a leitura objetiva dos fatos.

Escrevo naquela coluna:
"O PT está morto, observei aqui certa feita, "como ente de razão" apenas, como tentativa de um imperativo categórico, como formulador de uma visão de mundo que se queria holística –haveria, nessa perspectiva superada, um modo petista de estar no mundo.
Mas continuam vivas as demandas que o alimentaram nesse tempo. Ainda que o partido morresse como corpo físico, sobraria o espírito, que trata de redenção, não de reforma (como a Lava Jato, diga-se!).
Trata-se da única gesta bem-sucedida que temos do "empoderamento (argh!) do oprimido". Não é algo que deva ser ignorado, como tem feito a direita xucra.
A esquerda está, sim, combalida. Ocorre que a sobrevivência eleitoral daquilo que Lula representa depende menos das pantomimas da companheirada do que da espantosa combinação de ignorância e voluntarismo de correntes que se alinham à direita."

Segundo o que está registrado no site do Tribunal Superior Eleitoral, a Folha e a TV Globo divulgam amanhã os números da pesquisa Datafolha sobre a eleição presidencial deste ano. O registro foi feito no dia 16. O levantamento teve início ontem e será concluído hoje. Números de dois outros institutos deixaram o mercado nervoso nesta segunda-feira — depois será preciso apelar à história para ver se esse nervosismo tem razão de ser ou se estamos, mais uma vez, diante de um velho esporte nacional que é a especulação.

Segundo dados do instituto MDA, que faz o levantamento para a Confederação Nacional dos Transportes, Lula teria hoje 37,3% dos votos; em maio, tinha 32,4%. Cresceu. Jair Bolsonaro, do PSL, vem em segundo lugar, com 18,8%, Oscilou dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, em relação ao levantamento anterior: 16,7%. Empatados em terceiro lugar, vêm Marina Silva (Rede), com 5,6%.; Geraldo Alckmin (PSDB), com 4,9% e Ciro Gomes (PDT), com 4,1%. A pesquisa CNT/MDA não testou um cenário sem Lula.

Nas simulações de segundo turno, o petista bateria facilmente todos os seus potenciais adversários. A diferença em relação a maio aumentou: 49,5% a 29,4% contra Alckmin; 50,1% a 26,4% contra Bolsonaro; 49,8% a 18,8% contra Ciro. Sem Lula, os principais postulantes ficam tecnicamente empatados no segundo turno, e ninguém atinge a casa dos 30%. A única categoria que ultrapassa esse número é a de votos brancos/nulos/ninguém: ficam entre 32,7% e 42,6%, a depender da simulação, o que seria um desastre num país em que o voto é obrigatório.

Aqui e ali, os dados da pesquisa CNT/MDA foram vistos com alguma desconfiança, em especial porque não se testou um cenário sem Lula. Restou um certo cheiro no ar de algum arranjo para beneficiar o PT, embora não haja nenhum elemento objetivo que o indique. Os especuladores, no entanto, não tiveram dúvida nenhuma: começaram a… especular.

Horas depois, veio a ducha de água fria em quem desconfiou dos números. Pesquisa Ibope, divulgada pela Rede Globo, referendava os números do MDA: Lula (PT), 37%¨; Jair Bolsonaro (PSL), 18%; Marina Silva (Rede), 6%; Ciro Gomes (PDT), 5% e Geraldo Alckmin (PSDB), 5%. Nesse caso, brancos e nulos somam 16%.

O Ibope não testou o segundo turno, mas levantou o cenário sem Lula, tendo Fernando Haddad como candidato do PT. Nesse caso, Jair Bolsonaro lidera, com 20%; em segundo, vem Marina, com 12%, seguida de Ciro, com 9%, e Alckmin 7%. O petista Haddad marca apenas 4%. Mas isso não quer dizer nada. Enquanto Lula estiver na disputa e não disser, oficialmente, quem é o seu candidato, tal dado só serve para alimentar as esperanças do antipetismo.

Vamos ver os dados da pesquisa Datafolha. No questionário do Datafolha, que estava disponível ontem à noite, há dois cenários testados: com Lula como candidato do PT e com Fernando Haddad. O instituto vai, mais uma vez, testar a capacidade de transferência de votos de Lula.

O MDA mediu o "potencial positivo" (vota com certeza ou poderia votar) e o "potencial negativo" (não votaria de jeito nenhum) de cada candidato. O ex-presidente tem o maior potencial positivo: 55.6%, seguido por Marina (40%), Ciro Gomes (39,9%), Alckmin (35,9%) e Jair Bolsonaro (35,3%). O candidato do PSL lidera o potencial negativo, com 53,7%, seguido de Marina (52,7%), Alckmin (52,5%), Ciro (44,1%) e Lula (41,9%).

Embora seja enorme a rejeição aos candidatos que aparecem mais à frente na disputa, nota-se que Lula se tornou, segundo o MDA, o menos rejeitado nessa lista e aquele com o maior potencial de votos.

O cenário que aí está tem autoria: direita xucra, Deltan Dallagnol, Rodrigo Janot e Sérgio Moro. E há alguns coadjuvantes, como Cármen Lúcia e Edson Fachin. Mas ficará para outro post.

Cumpre notar, finalmente, que o horário eleitoral tem sido, ao longo da história, em boa parte das vezes, o fator que define vitoriosos e derrotados. Vamos ver se será assim também desta feita. Há, como sabemos, um fastio inédito da política e dos políticos. É por isso que agora se vê com cuidado esse elemento como definidor do resultado.

De toda sorte, por mais que se tente uma leitura alternativa, só um partido tem motivos para comemorar os números nessas duas pesquisas: o PT. E Bolsonaro? Parece consolidado, sim. Mas também está empacado.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.