Coluna na Folha: A luta contra ladrões roubou a política. Devolvam! Ou: Reacionarismo “naïf” de Bolsonaro é menos grave do que o isolamento
Caminhamos para uma eleição em que o político foi escolhido por parcela das nossas elites —inclusive as intelectuais, nas quais incluo o jornalismo— como inimigo do povo. Mas e o povo? Escolheu o quê? A série de entrevistas do Jornal Nacional com candidatos à Presidência foi um emblema do espírito do tempo.
Na escala das máculas morais, uma triunfava sobre todas as outras: as alianças. Ter aliados era a evidência de que o interrogado condescendia com lambança.
Ora, haver inquéritos, denúncias, processos e condenações contra homens públicos, de praticamente todos os partidos, é, em princípio, evidência de que os órgãos encarregados de investigar e punir desmandos estão em ação e de que a Justiça lhes dá suporte. É bem verdade que o combate à corrupção pode ser de tal sorte marcado por ilegalidades que o "Primeiro Vilão" da narrativa acaba se convertendo no preferido do povo.
E, nesse caso, por favor!, resistam à tentação de tentar mudar de povo. Seria mais conveniente tentar educar as elites. Fala-se aqui em defesa da política.
A minha pergunta permanente a quem se propõe a liderar um amplo arco de alianças é esta: "Com que finalidade?" Sei por que FHC foi buscar o PFL. Sei por que Lula atraiu o centrão. Mas não saberia dizer por que Dilma formou um dia uma maioria. Ela queria o quê?
A minha pergunta permanente a quem se oferece como o guerreiro solitário é esta: "Como pretende governar sem o Congresso?" Até onde alcanço a ciência política, até onde a história instrui, até onde o passado é eloquente, a solidão do demiurgo é que conduz ao descaminho do populismo ou do autoritarismo. A regra vale para o ogro e para o rei-filósofo. Conhecemos um, não outro, e ambos não prestam.
O reacionarismo "naïf" de Jair Bolsonaro, que provoca a indignação compreensível, mas também ingênua e contraproducente, da imprensa, é infinitamente menos importante do que o fato de ele estar sozinho em sua empreitada. É um erro imaginar que o pouco apreço pelos direitos humanos está para Bolsonaro como as alianças estão para os políticos ditos "tradicionais". Tal consideração é expressão de analfabetismo político.
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