3- FOSSE EU CIRO, FARIA O SEGUINTE: anteciparia o 2º turno no 1º e proporia frente antifascista; adversários não podem fazê-lo já
ATENÇÃO, LEITOR! ESTE TEXTO PRECISA SER LIDO COLOCANDO-SE NA POSIÇÃO DO CANDIDATO EM QUESTÃO. NÃO É UM JUÍZO DE VALOR DO AUTOR.
Ciro Gomes, do PDT, está em segundo lugar na pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta, com 13% das intenções de voto, em empate rigoroso com o petista Fernando Haddad. Moveu-se três pontos percentuais em duas semanas: tinha 10% no dia 22 de agosto e foi para 13% no dia 10, mesmo índice desta sexta.
Está em empate técnico também com Geraldo Alckmin (9%), mas, nesta rodada ao menos, a disputa que se anuncia para enfrentar Jair Bolsonaro no segundo turno é mesmo com um candidato de esquerda: Haddad. Na região Nordeste, por exemplo, ambos estão tecnicamente empatados: 20% a 18% para o petista. O mesmo acontece na Sudeste: 12% a 10%, aí com Ciro à frente. São as regiões com o maior eleitorado do país. Ocorre que Lula liderava em ambas (59% na Nordeste e 31% na Sudeste). Como o ungido do ex-presidente está em pleno processo de transferência de votos, parece que não seria muito produtivo Ciro tentar demonstrar que Haddad não é Lula, já que este diz que sim. O procedimento seria de baixa eficiência.
Ciro conta, ademais, com deficiências estruturais óbvias quando confrontado com Haddad: dispõe de alguns segundos apenas no horário eleitoral de rádio e televisão e de uma estrutura partidária minúscula quando comparado com o gigantismo do adversário à esquerda. Entendo que, ao contrário do que sugere uma primeira abordagem do tema, o pedetista deveria tratar de Haddad apenas como uma questão colateral. Explico.
É Ciro, segundo a pesquisa, o candidato que bateria Jair Bolsonaro com mais facilidade 45% a 35%. O candidato do PSL encurta a distância no confronto com Alckmin (41% a 37% para o tucano) e com Haddad (41% a 31% para o capitão reformado, um empate técnico). Aliás, o pedetista é o único candidato que venceria todos os potenciais adversários fora da margem de erro. Contra Alckmin, por exemplo, marca uma vantagem de seis pontos: 40% a 34%.
Se eu fosse Ciro, não procuraria tirar os votos de Haddad, mas ganhar a adesão de eleitores, como dizem por aí, "progressistas" que, por ora, estão com outros candidatos. Marina Silva (Rede) ainda conta com 8% das intenções de voto. Perdeu 50% em três semanas. Os que resistem, tudo indica, são avessos a Bolsonaro — contra quem a candidata já se bateu de peito aberto —, mas também não se sentiriam representados, em sua maioria, pelo petismo.
Segundo a pesquisa, 9% do eleitorado que se identifica com o PT ainda está com Marina — esse índice era de 19% há três semanas. A turma migrou para Haddad, que, no período, viu tal número saltar de 11% para 39%. Mas, notem, há eleitores claramente de esquerda que ainda permanecem com a candidata. E aqueles que são propriamente marinistas tendem a repudiar Bolsonaro. Cumpre a Ciro, entendo, fazer a campanha do voto útil junto ao eleitorado da candidata em particular e apelar, de maneira geral, contra o risco de um governo autoritário, representando por Bolsonaro.
"Ele tem de fazer a mesma coisa que você recomendou a Alckmin, Reinaldo?" Não! Releiam "O que eu faria se fosse Alckmin". O tucano tem de alertar para os males decorrentes de uma polarização de extremos. A Ciro compete alertar para o risco de retrocessos institucionais, sociais e na área de direitos humanos. Ou por outra: em lugar dele, proporia desde já uma espécie de embate de segundo turno contra o candidato do PSL: civilização contra barbárie.
Observem: o discurso de esquerda de Haddad está centrado na sua identificação com Lula e nas alegadas injustiças de que o ex-presidente foi vítima, que contribuíram para tirá-lo da eleição. O PT está reservando o embate propriamente ideológico para um eventual segundo turno. Ciro não precisa esperar. A rejeição a Bolsonaro, de 44%, evidencia que a repulsa a seu nome se espalha por todos os estratos da população. Chega a 47% entre os que ganham até 2 salários mínimos. Ele conta, por exemplo, com 36% dos votos de quem recebe mais de 10 mínimos, mas 38% não votariam nele de jeito nenhum.
E, por óbvio, Ciro deve apelar às eleitoras de todos os demais candidatos. Nada menos de 49% das mulheres dizem não votar em Bolsonaro. O pedetista conta com 13% nesse estrato — no dia 10, eram 9%. Em suma: em lugar de Ciro, eu optaria por algo como "todos contra o fascismo". Também nesse caso, bater em Haddad corresponde, entendo, a fortalecer Bolsonaro, correndo o risco de não ganhar voto nenhum.
Sim, claro! No próximo texto, aguardem!, direi o que eu faria se fosse Bolsonaro.
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