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Reinaldo Azevedo

Proposta em carta de FHC me pareceu, desde o começo, irrealizável. Mas a reação de certos setores ao óbvio prova boçalidade destes dias

Reinaldo Azevedo

22/09/2018 19h28

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sentiu o peso da irracionalidade destes tempos.

Ele escreveu uma carta aberta defendendo a união do chamado "centro político" contra os extremismos.

Eu mesmo comentei no rádio, na televisão e neste blog que a chance de acontecer algo parecido era inferior a menos dez. E destaquei que o FHC estava menos fazendo uma proposta prática do que alertando para os riscos à estabilidade em caso de vitória ou de Jair Bolsonaro ou de Fernando Haddad. E, convenham, pouca coisa faz acreditar que não vá acontecer uma coisa ou outra. No caso do PT, uma primeira vitória, a depender do cenário, já está assegurada: se o candidato do PSL vencer, o partido lidera a oposição. Se ganhar a eleição, o partido, por óbvio, leva o prêmio principal.

Era de se esperar que a esquerda reagisse com desprezo à proposta. Afinal, ela é um dos polos contra o qual fala a carta.

Era de se esperar que o bolsonarismo fizesse a mesma coisa pela mesma razão.

Mas a reação do chamado "centro" e mesmo de setores da imprensa dá conta da boçalidade em curso.

Se a união do centro é, sim, uma ilusão, as circunstâncias e a análise do texto fazem sentido e deveriam ter sido lidas, quando menos, com respeito. Não respeito a um ex-presidente, que está sujeito a cometer erros políticos como qualquer pessoa, mas ao pensamento que lá vai expresso.

E olhem que nem concordo inteiramente com a leitura que faz FHC. Acho que falta lá o reconhecimento do desastre a que o lado ilegalista da Lava Jato conduziu o país, mas compreendo também que políticos tenham dificuldade de tratar dessa questão, ainda que a reconheçam — e, com efeito, não sei se FHC se inclui estre estes. Parece que não.

Mas é inegável que a questão é procedente.

Fazer o quê? A história ilustra, ensina e instrui. Não é a primeira vez que segmentos do centro político se deixam tragar por extremismos que não se falam.

De toda sorte, reitero: não me surpreende a reação negativa desses setores ao que parece mesmo impossível, além de tardio. Os termos  estúpidos em que ela veio à luz é que constrangem o pensamento civilizado.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.