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Reinaldo Azevedo

SEM CERTEZAS 3- Quatro estratégias em voga têm potencial para mexer com disputa; vamos ver qual será mais bem-sucedida na reta final

Reinaldo Azevedo

24/09/2018 03h25

Quatro das estratégias em voga têm potencial para interferir no curso dos fatos. O tucano Geraldo Alckmin optou pela desconstrução da figura de Jair Bolsonaro (PSL). Na sociedade civil, surgem correntes fortes e organizadas contra o seu nome, algumas de caráter suprapartidário O tucano também alerta para o risco que representaria, na sua visão, a eventual vitória do petista Fernando Haddad. Mas, por óbvio, sabe que precisa ganhar votos do centro e da direita se anseia um lugar no segundo turno.

Bolsonaro tem uma militância aguerrida na Internet, mas não vence a eleição só com ela. Parte do seu eleitorado certamente não gostou de saber que seu guru econômico flerta com a volta da CPMF — o que o candidato descartou.

O bolsonarismo contra-ataca não exatamente com uma resposta a Alckmin, mas com a pregação de que é preciso liquidar logo a fatura e insiste na possibilidade de vencer no primeiro turno. Nem mesmo os números mais favoráveis ao candidato apontam para essa possibilidade. Mas seus entusiastas apostam na existência de um voto encoberto, que seria pró-Bolsonaro, mas teria receio de revelar. Duvido que isso exista. Tenho visto bolsonaristas a se pronunciar sem vergonha nenhuma.

Haddad continua colado a Lula porque o partido avalia que o potencial de transferência de votos ainda não se realizou plenamente. Segundo o Datafolha, entre os indecisos, 45% dizem que votariam com certeza num candidato indicado por ele, e 15%, que poderiam fazê-lo. Nesse grupo, no entanto, 68% ainda não sabem quem o ex-presidente apoia, Entre os eleitores com ensino fundamental, 47% votariam com certeza de acordo com a orientação de Lula, mas 49% não sabem que o ex-prefeito de São Paulo é esse candidato. No grupo com renda mensal menor a dois salários mínimos, os índices são de 45% e 40%, respectivamente.

O candidato do PT tem uma outra vantagem: 44% dos eleitores ainda não sabem quem é ele. É o menos conhecido dos cinco postulantes mais bem-colocados nas pesquisas. Notem: sempre que os adversários do PT insistem em ligar o nome do candidato ao de Lula, podem estar prestando um serviço involuntário ao partido — ainda que, como é natural, tal associação venha escoltada por fatos negativos, como a prisão do ex-presidente e as acusações ligadas ao petrolão.

Ciro Gomes (PDT) vive uma situação que não foi antevista por analistas, aliados ou adversários. Como o seu discurso é inequivocamente de esquerda, parecia razoável supor que parte considerável de seus votos migrasse bem depressa para Haddad. Ciro tem resistido. E isso tem servido para balizar a estratégia do candidato: ele decidiu bater em Haddad, apontando a sua inexperiência e também tem-se apresentado como o antibolsonarista mais eloquente, associando o pleito do candidato do PSL ao nazismo, não evitando nem mesmo evocar a figura de Hitler.

Assim, se Bolsonaro pretende ser o antipetista por excelência, Ciro se oferece para ser o antibolsonarista mais qualificado. Nas simulações de segundo turno do Datafolha e do Ibope, ele venceria o deputado, que fica em empate técnico com Haddad.

Assim se dará a reta final: Bolsonaro insistirá no antipetismo e falará em vitória no primeiro turno; Alckmin alertará contra o caos de uma disputa entre o capitão reformado e o PT, com ênfase no autoritarismo do adversário à direita; Haddad continuará colado a Lula, enquanto o PT se encarrega de mobilizar desde já a sociedade civil contra o candidato do PSL, e Ciro dirá ter mais experiência do que Haddad e ser ele o mais competente para enfrentar aquele a quem associa ao nazismo e ao fascismo.

Em 2014, Sua Excelência o eleitor tomou decisões na última hora. Vamos ver agora.  

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.