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Reinaldo Azevedo

Comissão inocenta juíza no caso de advogada negra algemada... Segundo comissão, a culpa é da vítima!

Reinaldo Azevedo

25/09/2018 16h34

Por Mônica Bergamo, na Folha:
A comissão judiciária que investigou o caso da advogada Valéria Lucia dos Santos, algemada por PMs durante audiência judicial em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, concluiu que ela "se jogou no chão" e começou a se debater, sendo "momentaneamente" algemada para a sua própria segurança.

A juíza leiga Ethel Tavares de Vasconcelos, que teria chamado a polícia para que retirasse Valéria Lucia da sala de audiência, foi inocentada da prática de qualquer abuso. O juiz leigo é um advogado que auxilia a Justiça em alguns juizados especiais, mas a decisão final é de um juiz togado.

Para a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a investigação é um procedimento interno e administrativo do tribunal, sem valor judicial, em que as partes foram ouvidas separadamente. Em nota, a entidade disse que a conclusão da comissão causa "espécie e estupefação".

Procurada após a decisão, a advogada ainda não se manifestou. No entanto, em depoimento anterior à Folha, Valéria afirmou que foi derrubada e arrastada pelos policiais. "Quando chegou do lado de fora da sala, me deram uma rasteira e eu caí sentada. Depois colocaram as algemas", disse. Valéria e a juíza leiga discutiram porque a advogada exigia ter acesso à peça da defesa.

Com a repercussão do caso, a audiência foi anulada e remarcada para 18 de setembro, com a presença de um juiz togado. A decisão final foi favorável à autora, a cliente de Valéria.

Na conclusão da comissão judiciária, o desembargador Joaquim Domingos de Almeida Neto, do Tribunal de Justiça do Rio, afirma: "Não vislumbro prática de qualquer desvio funcional dos servidores envolvidos e da advogada juíza leiga Ethel Tavares de Vasconcelos".

Ele afirma também que a "versão da advogada Valéria Lucia dos Santos de que 'levou uma rasteira, uma banda, suas mãos colocadas para trás e algemada' está em colisão com todo o restante da prova que afirma que ela se jogou no chão e se debatia quando veio a ser momentaneamente algemada, até que o representante da OAB chegou e ela se acalmou, havendo pronta retirada das algemas".

O magistrado diz ainda que a "imagem forte" de Valéria no chão algemada "correu o mundo virtual, mas à qual não se pode emprestar maior significado do que o que realmente revê. A própria versão da 'rasteira' não se amolda à imagem registrada em vídeo, e por isso deve ser descartada".

Já para o presidente da Comissão Estadual de Defesa de Prerrogativas da OAB, Luciano Bandeira, a conclusão da comissão "não muda nada, é um processo unilateral". "Nós não sabemos quem são as testemunhas, sequer estávamos presentes quando a juíza leiga e testemunhas apresentaram suas versões", afirma o presidente da Comissão Estadual de Defesa de Prerrogativas da OAB, Luciano Bandeira.

Para ele, não é possível dizer que a juíza leiga foi inocentada. "Não tem isso de inocentar. Pode ser que administrativamente o tribunal não vá fazer nada, mas por parte da OAB isso continuará sendo apurado".

A Ordem vai prosseguir com a investigação interna no seu Tribunal de Ética e Disciplina e já entrou com representação contra os policiais na corregedoria da corporação.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.