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Reinaldo Azevedo

MORO E PALOCCI 1: Juiz põe fim a sigilo de delação na boca da urna; em rede social, sua mulher hostiliza o movimento anti-Bolsonaro

Reinaldo Azevedo

02/10/2018 04h48

Rosângela e Sérgio Moro: eis um casal sintonizado. Ele quebra o sigilo de uma delação que nem foi investigada e é considerada "o fim da picada" por procurador que conhece o riscado; ela hostiliza protesto contra Jair Bolsonaro

O juiz Sérgio Moro decidiu ser personagem na eleição. É a única coisa que explica ter levantado o sigilo da delação do ex-ministro Antonio Palocci a seis dias do pleito. É claro que ele sabia o que iria provocar: a imprensa e as redes sociais iriam dar destaque ao que disse o delator. Numa disputa acirrada como a que está aí, é evidente que isso pode fazer a diferença. O "mecanismo" não brinca em serviço. "Mas qual o que distingue o que fez Moro do que fez a VEJA?" Bem, quem pergunta talvez nem merecesse a resposta, mas eu a darei ainda assim.

Delação, como todos sabem, não é prova, mas apenas um caminho para se chegar à dita-cuja. O TRF-4 homologou a de Palocci no dia 22 de junho, apenas dois dias depois de o Supremo ter decidido que também a PF pode fazer delações. As investigações ainda estão em curso. Mas os títulos se espalham pelos portais, com suas respectivas matérias com conteúdo acusatório: "Lula teria reunido Palocci e Gabrielli no Alvorada para cobrar recursos do pré-sal"; "Palocci diz que campanhas de Dilma Rousseff custaram R$ 1,4 bilhão"; "PT desqualifica delação de Palocci na tentativa de blindar campanha de Haddad" — como se o partido fosse admitir as acusações não fosse a eleição.

De maneira que me parece cínica, Moro alega que levantou o sigilo e pôs no ventilador as acusações de Palocci para garantir aos acusados o amplo direito de defesa. Como? Não fosse assim, então o dito-cujo não existiria?

Estou aqui a dizer que Palocci está mentindo? Não! Estou afirmando que um criminoso confesso não deveria, em parceria com o Judiciário, tentar interferir na eleição desse modo. Não sei o peso que a coisa terá — mas me parece certo que, se Jair Bolsonaro vencer a eleição, restará a suspeita, já que se tem hoje um empate, de que um bandido e um juiz introduziram um viés nas urnas.

"Ah, mas foi contra outros bandidos…" Pode até ser. Mas as provas precisam ser produzidas. É assim no Estado de Direito. O que se tem, nesse caso, é uso escancarado do poder investigativo e repressivo de entes do Estado em período eleitoral. Para alguns, pode ser irrelevante. Para mim, não é. Claro! Hoje os bolsonaristas aplaudem. Poderão lamentar amanhã caso seu candidato seja bem-sucedido.

Nunca tive dúvida de que o candidato do PSL fosse o nome da Lava Jato. Eis aí. Até a mulher de Sérgio Moro, Rosângela, tirou uma casquinha no Instagram. Fez uma cuidadosa seleção de fotos com pessoas nuas e seminuas que trazem a inscrição "EleNão". A intenção dispensa interpretação. Do outro lado daquele que parece ser o seu lado, só existiriam pessoas de moral duvidosa. Segundo Eduardo Bolsonaro, filho do presidenciável, as mulheres de direita são mais higiênicas.

Talvez o PT seja mesmo culpado de tudo. Investigue-se. Mas por que levantar o sigilo agora? Por que o juiz não o fez, então, logo depois da homologação? A resposta é dada pelo calendário, não?
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.