Moro continuará a oferecer cabeça de acusados de corrupção porque o “show must go on”; não tarda, e haverá pedido de devolução do voto...
Jair Bolsonaro diz ter dado carta branca para Sergio Moro agir no combate à corrupção e ao crime.
De saída, vamos ao óbvio: inexiste carta branca em política e na vida. E, quando existe, não costuma resultar em coisa boa. Nem Bolsonaro a tem. A sua carta, diga-se, é bastante extensa e se chama "Constituição".
De todo modo, o Brasil ganha um superxerife. Nunca houve alguém com tanto poder nessa área. A Polícia Federal estará sob o seu guarda-chuva. As operações espetaculares passaram a fazer parte da rotina no país até antes da Lava Jato. Vêm lá do primeiro mandato de Lula. Com a operação, elas se intensificaram enormemente. Moro é uma espécie de herói para parte considerável dos juízes federais. E, por óbvio, estará alinhado com o núcleo duro do Ministério Público Federal. Todos esses agentes e entes do Estado estão empoderados como nunca.
O espetáculo estará garantido. Não vai demorar para que alguns se vejam tentados a pedir seu voto de volta. Mas agora Inês é morta. E, desta feita, não será transformada em rainha.
Não que vá existir necessariamente um cérebro a coordenar as ações, mas o fato é que ajustes que precisam ser feitos na economia não serão indolores. Será preciso alimentar o espírito das ruas — e Moro estará lá para isso — com cabeças de medalhões penduradas em postes.
Ademais, a Lava Jato e outras operações do gênero que venham a ser criadas deixam de ser ações do Estado e passam a ser do governo. Uma fala do presidente eleito na coletiva é emblemática: Moro terá agora mais poderes, disse ele. Mas esperem: ela já tinha muito. O que Bolsonaro está dizendo, ainda que sem se dar conta da extensão e da eventual gravidade, é que Ministério Público Federal — uma fatia dele —, Polícia Federal, órgãos outros de controle e um pedaço do Judiciário estarão sob um mesmo comando.
O desfile de medalhões acusados de corrupção vai continuar. Até que a Justiça venha a bater o martelo sobre seus respectivos destinos, leva tempo. É possível que suas empresas tenham quebrado, junto com outras: as dos industriais que, segundo Paulo Guedes, não sabem exercer o seu ofício. Danem-se! Se der para, de quebra, aprovar algumas pautas na área dos costumes, melhor. The show must go on.
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