Topo

Reinaldo Azevedo

Bolsonaro nomeia para transição dono da AM4 maior fornecedora da campanha; vamos convir: não estamos diante de uma prática inovadora...

Reinaldo Azevedo

05/11/2018 22h04

Transição: Marcos Pontes, general Heleno, Onyx Lorenzoni e Marco Aurélio Carvalho (Foto: – Pedro Ladeira/Folhapress)

Na Folha. Comento ao pé do texto.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), nomeou para compor a equipe de transição um dos donos da AM4, a maior prestadora de serviços da candidatura do capitão reformado. Marcos Aurélio Carvalho é um dos 28 nomes que foram publicados no Diário Oficial da União nesta segunda-feira (5).

A remuneração de Carvalho será de R$ 9.926,60 durante a transição governamental. Ele participou de reunião da equipe de transição nesta segunda, em Brasília, com os futuros ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, da Defesa, general Augusto Heleno, e da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.

Procurado pela reportagem, Carvalho explicou que vai "ajudar na comunicação" da equipe e enviou nota na qual afirma que todas as ações da campanha de Bolsonaro foram regulares.

A campanha de Bolsonaro apresentou na última terça-feira (30) ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) um gasto adicional de R$ 535 mil com a AM4 Brasil Inteligência Digital LTDA. Isso tornou a empresa, segundo os dados disponíveis até aquele momento, a maior prestadora de serviços da candidatura do capitão reformado. O custo com a empresa soma R$ 650 mil.

A Folha mostrou que empresários impulsionaram disparos em massa por WhatsApp contra o PT na campanha que se encerrou no dia 28. A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada.

Na época da publicação da reportagem, a AM4 era a única prestadora de serviços de internet declarada na prestação de contas do candidato do PSL.

A empresa afirmou à Folha, na ocasião, que tinha apenas 20 pessoas trabalhando na campanha. "Quem faz a campanha são os milhares de apoiadores voluntários espalhados em todo o Brasil. Os grupos são criados e nutridos organicamente", afirmou Marcos Aurélio Carvalho, em outubro.

Na época, ele afirmou que a empresa mantinha apenas grupos de WhatsApp para denúncias de fake news, listas de transmissão e grupos estaduais.

A assessoria de imprensa da AM4 afirmou que não contratou impulsionamento de conteúdo na internet e que o pagamento de R$ 535 mil se deve ao aumento de seu trabalho no segundo turno, "quando o candidato passou a ter tempo de rádio e TV e a AM4  também passou a dirigir os filmes da campanha."

Veja íntegra da nota enviada pela AM4 nesta segunda (5):

"A AM4 já esclareceu em diversas oportunidades que não adota, não recomenda e reputa ineficaz o envio de mensagens em massa por WhatsApp para contatos de base de dados que não seja própria. A campanha presidencial de Jair Bolsonaro em nenhum momento utilizou-se de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, nesse sentido. O único disparo efetuado, para apenas 8 mil contatos, tinha como conteúdo tão somente o novo número de celular, para que doadores previamente cadastrados pudessem fazer contato. Todas as ações da campanha foram absolutamente regulares e respaldadas pela legislação eleitoral".

Comento
Eis aí. Nesse particular, convenham, não há uma inovação. Nos tempos pré-redes sociais, governantes levavam para o poder seus marqueteiros.  Marco Aurélio Carvalho não é exatamente um marqueteiro de Bolsonaro, mas resta evidente que é muito próximo do núcleo no qual se insere o próprio presidente eleito. Ele pertence, na verdade, ao círculo de relações pessoais de Gustavo Bebbiano. Tendo atuado na campanha como profissional contratado, o desejável é que ficasse fora da gestão, não? Isso marcaria uma diferença em relação a práticas passadas.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.