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Reinaldo Azevedo

Em coletiva, Moro responde ao PT, mas não responde ao essencial; quem faz o que ele fez na classe política não pode virar um... político

Reinaldo Azevedo

06/11/2018 17h09

Sérgio Moro durante coletiva após sua indicação como ministro da Jusitça. Foto: Giuliano Gomes – PR Press

"Eu não posso pautar minha vida com base numa fantasia, num álibi falso de perseguição política"

"Sei que alguns eventualmente interpretaram a minha ida como uma espécie de recompensa. É algo absolutamente equivocado, porque minha decisão [que condenou Lula] foi tomada em 2017, sem qualquer perspectiva de que o então deputado federal [Bolsonaro] fosse eleito presidente da República. O que existe é um crime que foi descoberto, investigado e provado. As cortes de justiça apenas reconheceram esse fato e impuseram a pena da lei. Apenas cumpriram seu dever."

Esse é o dublê de juiz — já que ainda pertence ao Poder Judiciário — e futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, durante entrevista coletiva, tentando explicar a sua ida para o governo.

Sua fala não responde à minha crítica e à minha restrição principais, de natureza absolutamente objetiva. Eu não acuso o juiz de perseguir o PT. Eu afirmo que ele é responsável, em razão dos métodos que adota, por promover uma destruição na classe politica como um todo.

Aliás, um dos erros do petismo é imaginar que só o partido é alvo do juiz. A coisa é bem mais ampla.

Na coletiva, disse também que recebeu uma sondagem para integrar o futuro governo no dia 23, depois, portanto, de ter liberado trechos da delação de Antonio Palocci. Do meu ponto de vista, nada muda.

Divulgação de delações e denúncias feitas na boca da urna são detestáveis partam de onde partirem, pouco importando os alvos. Neste 2018, todos foram alvos de ações deletérias assim: PT, PSDB e ate o PSL de Bolsonaro.

Ademais, fato é que o juiz deveria ter se desligado do Poder Judiciário. E, no entanto, lá ele continua até janeiro, numa dupla militância até onde se sabe inédita.

Ah, sim: não cabe ao ainda juiz e já futuro ministro ficar repetindo trechos de sua sentença, já que o outro lado não poderia apresentar o contraditório, e o caso ainda não transitou em julgado.

O juiz Sérgio Moro tem pouco apreço pelas formalidades do direito. Eu tenho muito.

Moro responde ao PT, mas não responde ao essencial. Quem faz o que ele fez na classe política não pode, depois, virar um político, dizendo-se, no entanto, apenas um técnico.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.