Topo

Reinaldo Azevedo

Operação Capitu 2: Por que Joesley e demais delatores usariam crimes maiores para omitir os menores? E o caso do “Charuto Espacial”

Reinaldo Azevedo

10/11/2018 21h53

Oumuamua: o troço estranho, o "Charuto Espacial", passou pela órbita da Terra deixando um rastro de dúvidas…

Joesley Batista é personagem importante de algumas brigas que comprei a partir de maio de 2017. O que escrevi a respeito do caso está no blog. A sucessão de eventos — em que apontei a atuação que me pareceu irregular de Rodrigo Janot, Edson Fachin e Carmen Lúcia — resultou numa crise que responde, em parte ao menos, pela ascensão de Jair Bolsonaro. A propósito: os bolsonaristas e outros grupos de direita foram às ruas gritar "Fora Temer", o que me pareceu um erro crasso. Apontei dois riscos, que se manifestaram em fatos: a) ressuscitação do PT — e ele foi ressuscitado; tanto é que disputou o segundo turno; b) a destruição do centro político — e ele foi destruído, tanto é que Jair Bolsonaro foi eleito.

E por que as coisas se deram desse modo? Ora, justamente porque as delações de Joesley Batista e outros diretores do grupo J&F implodiam o chamado centro político e as forças que a ele se associaram após a queda de Dilma Rousseff. As lambanças com as empreiteiras e as estrepitosas delações de seus próceres — algumas obtidas em circunstâncias que estavam longe de ser o "Moisés" do Estado de Direito — já haviam nocauteado o PT. Quando Joesley e os demais fizeram as suas "confissões", boa parte do país deixou de crer que pudesse mesmo existir, já que estou brincando com Santo Agostinho, uma "Cidade de Deus".

Leio as acusações que faz agora a Polícia Federal. Ainda que tragam alguns atores novos na periferia de eventuais lambanças cometidas, eu me pergunto: por que Joesley e os demais as teriam omitido de caso pensado, de olho em algum propósito, quando estas, ainda que verdadeiras, são estupidamente menos graves de tudo o que haviam relatado em suas respectivas delações premiadas?

Também nesse particular, mostra-se a impropriedade do nome "Capitu" para a operação. Consta que Joesley é um gênio dos negócios. A considerar a sua inserção no chamado mercado de "proteína animal", não tenho razão para duvidar. Mas, nesse caso, estaríamos diante de uma genialidade de outra natureza, que não se explica pelas coisas deste mundo: por que ele usaria crimes maiores, e não foram poucos os admitidos, para DISSIMULAR crimes menores? Alguém tem alguma explicação razoável para isso?

"O que você está querendo dizer? Que ele é inocente nesses casos apontados?" Eu? Procurem no meu blog para saber quando me comportei como juiz de absolvição ou de condenação. Eu não! Estou lembrando que ele já se disse culpado — no âmbito da delação premiada — por coisa muito mais cabeluda do que as acusações de agora. Em um caso, pelo menos, seu advogado aponta que houve, sim, a admissão do pagamento de propina, à diferença do que aponta a PF. E parece fazer sentido.

"Mas qual a sua hipótese, Reinado Azevedo?" Não tenho hipótese propriamente, mas estranhezas. Joesley e os demais continuam na condição de colaboradores — logo, à disposição da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. São tantas as lambanças admitidas, em conexão com personagens da vida pública, que, vá lá, algumas das apontadas agora podem até ter escapado pelas margens. Ou, então, que se tenha uma boa explicação para o fato de, em sua delação, a turma não ter poupado os maiores medalhões da República — e notem que não entro no mérito da veracidade ou não das acusações —, mas se mobilizado, de maneira dolosa, para proteger peixes pequenos, irrelevantes mesmo, quando se considera a dinheirama envolvida no conjunto da obra. Ainda que se suspeite que o fazem para proteger seus negócios, tudo o que se confessou era potencialmente muito mais danoso para o grupo.

Li com cuidado tudo o que saiu a respeito da mal chamada "Operação Capitu". Como, diz-se, braço da Lava Jato — e, convenham, a investigação primitiva envolvendo Joesley e associados já Lava Jato não poderia ser chamada porque nada tinha a ver com Petrobras, certo? —, fica-se com a impressão de que setores distintos do que chamo "Partido da Polícia" já entraram na fase de disputar investigados, despojos, troféus, cabeças, sei lá eu. Cada um chame como quiser. Essa é uma possibilidade.

Outras se abrem. Algum fator exógeno, ainda mais desconhecido do que o "Charuto Espacial", o tal "Oumuamua", teria entrado na órbita desse ente de muitas faces em que se transformou a "Lava Jato", de modo a que uma inteligência alienígena ainda não categorizada estaria no comando. É uma ironia, tenho de observar. Notem que esta possibilidade contrasta com a anterior. Nesse caso, um valor mais alto teria se alevantado. No outro, estaríamos diante da entropia.

Sim, as delações de Joesley e outros serão submetidas a crivo pelo Supremo, e há a hipótese de nulidade. Por óbvio, as peripécias da Operação Capitu não ajudam a turma. Mas essa possibilidade abre as portas para uma enxurrada de ações judiciais movidas por aqueles que foram prejudicados pelas acusações feitas pelo empresário e seu grupo. Nesse caso, teríamos uma franja de um braço da Lava Jato a atuar contra a Lava Jato?

"Ah, Reinaldo, é tudo muito mais simples. A PF simplesmente descobriu que havia omissões nas delações…" Sim, mas isso nos devolve ao começo e àquilo que realmente não faz sentido: com que propósito? É preciso que haja ao menos uma hipótese.

Querem saber? De todas as possibilidades, o mais plausível, dado o conjunto da obra, é mesmo a de "Oumuamua", o Charuto Espacial. Os dias andam tão estranhos que é preciso começar a levar a sério a hipótese de ETs. Há aí, acho eu, uma tarefa para o jornalismo investigativo, que não é a minha praia. Sei que a imprensa não deve se contentar, nesse caso e em nenhum outro, em ficar vazando elementos selecionados pelos investigadores.

Pode haver um erro de Capitu nessa coisa toda. E dissimulado pode ser o narrador. Quem revela crimes maiores para esconder os menores. E com que propósito?

Leia Operação Capitu 1: A Polícia Federal submete a personagem de Machado a um julgamento e a condena; trata-se de um desrespeito à obra

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.