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Reinaldo Azevedo

Bolsonaro afirma que, em casos de corrupção, auxiliar seu só cai se virar réu e que, nos seus termos, ‘problemas menores serão absorvidos’

Reinaldo Azevedo

14/11/2018 15h57

Afirmei que seria preciso ver como Jair Bolsonaro, presidente eleito, iria lidar com a primeira crise envolvendo um nome forte do seu governo. A Folha publicou reportagem informando que, segundo a delação de diretores da JBS, que está de posse da Procuradoria Geral da República, Onyx Lorenzoni recebeu R$ 200 mil pelo caixa dois, não R$ 100 mil, como ele admitiu: de acordo com os delatores, metade foi repassada em 2012 para "Onyx-DEM", durante as eleições municipais, e metade em 2014, na campanha do próprio deputado.

A resposta de Bolsonaro em face do que está na PGR e consta da delação — não se trata de uma invenção do jornal — foi, como dizer?, mais ou menos. Indagado sobre o caso, respondeu:
"Tudo nos preocupa. Uma denúncia tornando-se robusta, transformando-se aquela pessoa em réu, nós vamos tomar alguma providência. O Onyx é ciente disso."

O parâmetro "virou réu, sai do governo" foi o estabelecido pelo presidente Michel Temer.

Se bem que é preciso lembrar que, na primeira crise havida na gestão do ainda presidente, um auxiliar então essencial caiu sem que tivesse ainda virado réu. Refiro-me ao senador Romero Jucá (MDB-RR). Deixou o ministério do Planejamento no dia 24 de maio de 2014, uma semana e meia depois de nomeado. Por quê? Uma gravação tornada pública, feita pelo delator Sérgio Machado, trazia uma conversa entre os dois. O senador dizia, então, com Dilma ainda presidente, que era preciso "estancar essa sangria". Entendeu-se que a frase era sinônimo de "é preciso pôr fim à Lava Jato". Foram investigados no mesmo inquérito o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o ex-presidente José Sarney.

Pois é… No dia 10 de outubro do ano passado, Edson Fachin, relator do petrolão no Supremo, mandou arquivar o inquérito a pedido da própria Procuradoria-Geral da República, de que o titular ainda era Rodrigo Janot, porque a Polícia Federal não havia encontrado nenhum indicio de que o trio houvesse atuado para prejudicar a Lava Jato — vale dizer: para obstruir o trabalho de investigação.

De todo modo, Jucá passou a ser tratado, inclusive pela imprensa, como aquele que queria pôr um freio à operação. E assim foi mesmo depois de extinto o inquérito.

A dura retórica de Bolsonaro contra a corrupção já deu uma amansada:
"É muito difícil hoje em dia você pegar alguém que não tenha alguns problemas, por menores que sejam. Os menores, logicamente, nós vamos ter que absorver. Se o problema ficar vultoso, você tem que tomar uma providência".

Não fica claro se Bolsonaro considera maior ou menor receber dinheiro pelo caixa dois.

Uma coisa é certa: ele só se tornou presidente da República porque prometeu ser implacável no combate à corrupção. Por óbvio, não disse em campanha que aceitaria que seus homens de confiança tivessem cometidos "problemas menores", que, então, serão, nas suas palavras, "absorvidos". E, como se nota, moralmente absolvidos.

Pergunta: é com régua tão generosa que Bolsonaro avalia seus adversários?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.