BOLSONARO E EU 3: Jornalismo não tem nem boas nem más intenções. Jornalismo lida com fatos. E o passado iliberal do presidente eleito
Não me quero nem mal nem bem-intencionado. No primeiro caso, exerceria a minha profissão movido pelo cinismo, usando o jornalismo como mero disfarce de uma agenda secreta. No segundo, seria assim, deixe-me ver, como um sacristão servil, porém desastrado, que se propõe a ajudar o padre a oficiar a missa, mas derruba o turíbulo — quer dizer "incensário", presidente —, esbarra no cálice e derruba o vinho, esquece onde guardou as hóstias… Nem sou adepto da máxima segundo a qual o inferno está cheio de gente de boa intenção porque, no mundo religioso, pecar por ignorância aproxima o vivente do perdão. É na esfera legal que não se pode alegar ignorância das leis, certo? Não comungo da cosmogonia bolsonariana, por certo, porque sou um liberal, e o presidente eleito e sua turma não são. Mas sou um brasileiro igualzinho a ele. Em muitos aspectos, fiz o que ele se negou a fazer por largos anos na Câmara: enfrentei as hostes do atraso estatizante, enquanto ele votava com o PT em favor de um Estado maior, de interesses corporativistas e contra o mercado. Isso já está mais do que provado.
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