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Reinaldo Azevedo

ABERRAÇÃO 3: Bolsonaro passa um recado ao mundo político: se preciso, alveja as lealdades, como fez com Bebianno. E ainda com humilhação

Reinaldo Azevedo

14/02/2019 07h36

É claro que, ao tratar Gustavo Bebianno como pária, o cálculo de Bolsonaro é um só: evidenciar à opinião pública que ele não tem nada a ver com "isso daí". Quem não se lembra de um vídeo de Lula, quando pululavam as evidências de malfeitos no escândalo apelidado de "mensalão", a pedir desculpas à nação? Disse que não sabia de nada e que havia sido traído. Mas sem nominar culpados. Anunciou ainda que ninguém seria poupado. A investigação, com efeito, atingiu a cúpula do PT por obra do Ministério Público e da Polícia Federal. José Dirceu caiu logo depois. Mas o então presidente não entregou ninguém aos leões. Bolsonaro não é do tipo que pede desculpas, como revela o episódio das barbaridades que disse à petista Maria do Rosário. Age como se Bebianno não tivesse sido seu braço direito na campanha. Passa um recado a quem quiser ser seu aliado: "Neste governo, é preciso ter sangue Bolsonaro para ser poupado". A política é um território afeito a traições, claro! Mas é preciso haver alguma lealde ao menos para atravessar o rio. Ou estamos na fábula do sapo que dá carona ao escorpião. É claro que o episódio fará muita gente pensar: quanto vale a fidelidade ao presidente? E, convenha, o agora ministro foi fidelíssimo. Do ponto de vista exclusivamente deles, não da lei, está sendo injustiçado. Mas reitero: espantam o modo, a exposição ao ridículo, a humilhação.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.