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Reinaldo Azevedo

MINHA COLUNA NA FOLHA: A reforma da Previdência, que tem de ser feita logo, não pode servir de esconderijo para os bárbaros

Reinaldo Azevedo

15/02/2019 08h34

Por que tantos entre nós fingem normalidade, como se os Poderes da República estivessem a viver dias tensos, mas dentro da normalidade?

É que a reforma da Previdência chega logo.

Por que se assistiu àquele espetáculo deprimente no Senado, com o regimento interno sendo rasgado muitas vezes, num processo eleitoral que, de modo deliberado e acintoso, ignorou uma decisão do Supremo?

É que a reforma da Previdência chega logo. E, depois dela, o país não será o mesmo. Ela vai ditar as novas relações do Congresso com o Poder Executivo.

Por que tanta apatia de algumas vozes antes indignadas com o autoritarismo petista e que tinham até certa admiração por um certo Reinaldo Azevedo, embora pudessem não entender direito o que ele escrevia nem por quê?

É que a reforma da Previdência chega logo. Ela submeterá as questões relativas à democracia a uma nova clivagem, de sorte que equacionar o déficit do setor e o rombo do Orçamento pode perfeitamente tomar, nas boas consciências, o lugar antes reservado a algumas abstrações que nos aprisionavam a uma agenda velha, a exemplo das liberdades individuais.

Por que tanta gente boa silencia quando o ministro da Justiça resolve introduzir no Código Penal a licença para matar, não distinguindo o aceno à barbárie da legítima defesa e da garantia da ordem?

É que a reforma da Previdência chega logo. Ela vai liberar os recursos para que se construa um novo país, e aquele "excesso escusável" criado pelo digníssimo ministro cederá lugar aos mansos de espírito. Até lá, seremos obrigados a matar e a empilhar corpos, como ocorreu no morro do Fallet, em Santa Teresa, no Rio. Ele combate a corrupção. E isso pode conviver com a morte de alguns pretos ou com lobistas da indústria de armas a frequentar o Ministério da Justiça sem previsão na agenda.
(…)
As centenas de textos que escrevi em defesa da reforma da Previdência expressam a minha opinião sobre o tema. Mas a dita-cuja não corrige males antigos e novos que com ela não guardam relação ou correlação. Nem pode ser lida como compensação ou justificativa para a estupidez em estado puro. Anuir com a barbárie pode tornar a mudança inviável.

O país precisa da reforma da Previdência, não da insolência anti-humanista e autoritária dos bárbaros que, no caso, já chegaram faz tempo.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.