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Reinaldo Azevedo

Live 1 – O fardo militar: Bolsonaro diz ter mais a desfazer do que a fazer

Reinaldo Azevedo

07/03/2019 22h39

Os militares que compõem o núcleo do governo, com duas exceções apenas — e ninguém saberá por mim os respectivos nomes — chegaram à conclusão de que caíram numa espécie de cilada. E agora terão de levar Jair Bolsonaro nas costas até o fim do mandato. Isso, claro!, na hipótese de que termine. É evidente que não se cogita nenhuma ação extralegal para afastá-lo. Mas, creiam, há quem comente nesse círculo restrito que existe o risco de que a aventura não chegue até o fim. E não será por força de tanques, mas das togas. E não faltaria por ali quem erguesse as mãos para o céu.

Os vexames vão se acumulando e acabam arrastando outros ministros. Nesta quinta, o presidente retomou a sua "live", a comunicação direta com seu eleitorado. Os seus gênios lhe sopram aos ouvidos que ele foi eleito em razão dessa comunicação direta, sem a mediação daquilo que Carlos Bolsonaro chama "mídia suja". Nessa leitura obtusa, a imprensa é vista como responsável pelas bobagens que são ditas pelo próprio presidente e, ora vejam, por dois de seus filhos: o vereador Carlos, o estrategista, e o deputado federal Eduardo, o ideólogo. O senador Flávio prefere a discrição. Quem sabe esqueçam o caso Fabrício Queiroz, e ele não precise, então, dar explicações sobre o laranjal que floresceu e deu frutos em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.

As vítimas do dia, na retomada da livre, foram os generais reformados Otávio Rego Barros, seu porta-voz, e Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete da Segurança Institucional). Serviram de coadjuvantes a uma fala que, francamente, não passaria num teste psicotécnico que capturasse sinais precoces de insanidade. Num vídeo de 20 minutos e 25 segundos, o presidente da República tratou de, atenção!, 10 assuntos, o que evidencia, por si, uma inteligência fragmentada, incapaz de estabelecer uma hierarquia entre os problemas — requisito número um para ser o que ele nunca foi: um bom militar.

Ladeado pelos generais, que mereciam um prêmio de interpretação — Heleno e Barros até se atreveram a ensaiar alguns voos retóricos — Bolsonaro definiu o emblema de seu governo: "Nós devemos, Rego de (sic) Barros, general Heleno, nem tanto fazer. Nós devemos é desfazer muitas coisas erradas que foram feitas ao longo destes últimos 20 anos".

Vinte anos? É verdade! Bolsonaro votou contra o Plano Real, contra as privatizações, contra a quebra do monopólio da Petrobras na exploração do petróleo… A lista seria imensa. Mas está dito: o presidente tem mais ideias sobre o que desfazer do que sobre o que fazer. A julgar pelos dois primeiros meses, há um risco grande de que desfaça o que presta em favor da permanência e da reiteração do que não presta. Afinal, entre os 11 temas postos à mesa, não estava Marcelo Álvaro Antonio, seu ministro do Turismo, acossado pelo laranjal da campanha eleitoral.

Daqui a pouco, a segunda parte

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.