Olavice em crise 2: Generais querem o fim do circo de R$ 116,76 bi do MEC
Recomendo ler primeiro: "Olavice em crise 1: Guru da extrema-direita xinga generais; olavetes na rua"
O MEC virou o circo do Bruxo da Virgínia. Sim, eu me refiro ao autoproclamado filósofo e professor Olavo de Carvalho. Foi ele quem indicou Ricardo Vélez Rodrigues para a pasta, e este, por sua vez, plantou "olavetes" — designação originalmente depreciativa, mas que foi incorporada pelos fiéis da seita olavista — ministério afora. Não por acaso, a pasta se tornou o principal território da guerra de extermínio que aquele especialista no próprio pensamento pretende empreender à distância contra… contra… deixem-me ver: contra qualquer pessoa que não se ajoelhe aos pés do Pensador Soberano. Entre uma expedição e outra para caçar ursos, o Mestre elegeu o seu principal inimigo no governo: o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República. Por extensão, a queda de braço do olavismo no governo tem os militares como polo opositor.
Uma nota antes que siga: o MEC não se tornou por acaso o campo de batalha. Carvalho se ressente do fato de que nunca foi reconhecido como um pensador relevante no Brasil. E cumpre destacar: por ninguém! Ainda que fosse verdade que a ideologia está na raiz da rejeição que lhe devotam os intelectuais de esquerda, o fato é que também os conservadores sempre o trataram com desdém. Seu sectarismo pueril, suas grosserias espantosas e seu ecletismo — já foi astrólogo, guru do islamismo e, nas ultimas duas décadas, empreende a sua luta planetária contra o comunismo, de que George Soros seria um dos principais cavalos de Troia — sempre o relegaram a um papel de animador de extremistas amadores e neoconvertidos ao reacionarismo. Direitistas que leram alguns livros se divertem com historietas de apelo folclórico que ele protagoniza, não com o seu pensamento. Não as repito aqui por decoro.
Sim, é verdade. Olavo comprou a candidatura de Bolsonaro na baixa. Para tanto, contribuiu a devoção que lhe tem Eduardo, um dos filhos do presidente — justamente o que ambiciona o papel de intelectual da família. Carlos o tem como mais um de seus peões na guerra empreendida nas redes sociais, e Flávio prefere, como temos visto, cuidar de assuntos mais terrenos. O grande guru do reacionarismo troglodita resolveu cobrar a fatura na alta. E, convenham, foi inicialmente bem-sucedido. Conseguiu nomear Ernesto Araújo para o Itamaraty e Vélez Rodriguez para a Educação.
A essência tóxica de suas ideias ultrapassou a linha do risco primeiro no Ministério das Relações Exteriores em razão da crise na Venezuela. Não fosse Mourão ter dado um cala-boca e um chega-pra-lá em Araújo, o Brasil teria se envolvido em atos de guerra contra um país vizinho, pela primeira vez desde o século XIX, logo no segundo mês de governo Bolsonaro. O Planalto só se meteu naquele vexame do "Dia D da Ajuda Humanitária" porque Araújo fez um apelo de última hora ao presidente, que acabou prestigiando o seu chanceler, contra a vontade unânime dos generais. E deu no que deu. Humilhado, Araújo agora persegue diplomatas que não rezem segundo a sua cartilha.
Dos ministérios todos do governo, o MEC é o mais complexo e o que abriga um maior número de áreas e tarefas. É preciso ser um bom administrador para ter um desempenho ao menos medíocre. É duvidoso que Vélez consiga organizar sua mesa de trabalho. Mas, afinal, lá estava o território a ser ocupado. E a pasta foi sendo colonizada por aqueles que agora se auto-intitulam, com orgulho, "os olavetes". O neologismo, por óbvio, apela às chacretes, as dançarinas do genial Chacrinha, com nomes que restaram na memória dos mais maduros. Como esquecer Fernanda Terremoto, Índia Potira, Cléo Toda Pura, Sarita Catatau, Leda Zeppelin, Gracinha Portelão e, claro, Rita Cadillac, artista ainda em atividade? As dançarinas eram sempre convidadas a um momento solo no palco, ao som de uma música de impacto.
A exemplo do que se passa no Itamaraty, o que os "olavetes" da Educação conseguiram produzir até agora além de más notícias e de eventos que submetem o governo ao ridículo? Dois falam por si: o anúncio de que será constituída uma espécie de comissão de censura para evitar o que chamam de "viés ideológico" no exame do Enem e a tal cartinha de Rodriguez às escolas, que levava o lema de campanha de Bolsonaro, orientando os educadores a filmar os alunos a cantar o Hino Nacional. Ah, sim: Marcus Vinicius Rodrigues, o novo presidente do Inep, o instituto que elabora os exames que testam o conhecimento dos estudantes, também defendeu em seu discurso de posse que se formem "cidadões" conscientes no Brasil…
A Educação, meus caros, tem o segundo maior orçamento do governo: de acordo com o Portal da Transparência, são R$ 116,76 bilhões para este ano. Só perde para a Saúde: R$ 122,62 bilhões. E que projetos o senhor Vélez Rodriguez apresentou até agora além da conversa mole sobre a tal guerra cultural, que deveria ser empreendida nas escolas, e uma certa "Lava Jato da Educação"? Nada.
As "Fernandas Terremotos" de Chacrinha divertiam o público. Já os olavetes provocam estragos por onde passam e não oferecem solução. A guerra ideológica não pode paralisar o governo.
CORREÇÃO
Havia um erro no título. Conforme informa o texto, com correção, o orçamento da Educação é de R$ 116,76 bilhões, não de R$ 122 bilhões.