Topo

Reinaldo Azevedo

Caça ao STF 2: Intimidação, irresponsabilidade, reforma e “fake opposition”

Reinaldo Azevedo

15/03/2019 11h01

01Uma das ações em curso de intimidação do Supremo é a chamada "CPI Lava-Toga", uma aberração de que o senador Alessandro Vieira (PPS-SE) se tornou o grande arauto. Deve ter percebido que isso lhe rende espaço na imprensa. Olhem o homem aqui. Ele conseguiu, de novo, 27 assinaturas nesta quinta para o requerimento que pede a abertura da investigação. A estrovenga começa por não definir nem mesmo o objeto da apuração. Ele quer investigar, genericamente, a conduta de ministros do tribunal e abrir a tal "caixa-preta" do Judiciário, o que é só um clichê que nada diz. Mas calma!

O Supremo já detectou a ação de Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil, na conquista de assinaturas. Jair Bolsonaro sabe disso? Concorda? Como não se definiu exatamente o que investigar, uma comissão de inquérito que fosse instaurada com esse espírito corresponderia a um Poder investigando o Outro. De saída, agride o fundamento constitucional da independência e harmonia que deve haver entre eles.

Imaginem se Dias Toffoli decidisse pedir a abertura de inquérito para apurar as omissões e a "caixa-preta" do Senado. Se a ação dos governistas conta ou não com a anuência do presidente, não se sabe. Fato: ele tem ascendência sobre alguns signatários. Já chego lá. Há um mês, Vieira já havia conseguido 27 assinaturas, mas depois alguns senadores retiraram o apoio. Seus soldados anti-STF de agora são estes — e ele diz aguardar seis outras adesões:

Podemos
01- Eduardo Girão (Pode-CE)
02-Lasier Martins (Pode–RS)
03- Styvenson Valentim (Pode-RN)
04- Álvaro Dias (Pode-PR)
05. Oriovisto Guimarães (Pode-PR)
06. Elmano Férrer (Pode-PI)

PSDB
07- Rodrigo Cunha (PSDB-AL)
08- Plínio Valério (PSDB-AM)
09- Izalci Lucas (PSDB-DF)
10- Roberto Rocha (PSDB-MA)
PSL
11- Selma Arruda (PSL-MT)
12-Major Olimpo (PSL-SP)
13- Soraya Thronicke (PSL-MS)
PPS
14- Alessandro Vieira (PPS-SE)
15- Marcos do Val (PPS-ES)
16- Eliziane Gama (PPS-MA)
Rede
17-Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
18- Fabiano Contarato (Rede-ES)
PSB
19-Jorge Kajuru (PSB-GO)
20-Leila Barros (PSB-DF)

PP
21-Luis Carlos Heinze (PP-RS)
22. Esperidião Amin (PP-SC)
PDT
22-Cid Gomes (PDT-CE)

PR
24. Jorginho Mello  (PR-SC)

PROS
25-Telmário Mota (Pros-RR)

PSD
26. Carlos Viana (PSD-MG)

SEM PARTIDO
27- Reguffe (sem partido-DF)

Haviam assinado o requerimento há um mês e NÃO ESTÃO neste de agora os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE), Kátia Abreu (PDT-TO), Sergio Petecão (PSD-AC), Eduardo Braga (MDB-AM), Luiz Carlos do Carmo (MDB-GO) e Jayme Campos (DEM-MT). Não estavam na primeira leva e agora aparecem Oriovisto Guimarães (Pode-PR), Carlos Viana (PSD-MG), Jorginho Mello (PR-SC), Elmano Férrer (Pode-PI) e Roberto Rocha (PSDB-MA).

BOLSONARISMOS DE RAIZ E NUTELLA
A lista acima revela algumas coisas. Ali está o líder do PSL no Senado, o bolsonarista Major Olímpio (SP). É um dos três membros do partido na Casa. Só Flávio Bolsonaro (RJ) não assinou, certamente para evitar que ligassem a coisa a uma intenção de seu pai.

O Podemos, de Álvaro Dias, que tenta a todo custo se colar na Lava Jato, tem oito senadores: nada menos de seis estão no grupo, que evidencia quão perdido no mundo está o PSDB. Nada menos de metade pensar ser preciso fazer a investigação sabe-se lá do quê.

"FAKE OPPOSITION"
E há os oposicionistas "fake". O PPS conta com três senadores, e os três estão ali. O autor do requerimento é do partido. Dos três senadores que sobraram à Rede, dois endossam o requerimento, e Randolfe Rodrigues (AP) é seu maior entusiasta. Ele também foi cabo eleitoral do bolsonarista Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a Presidência do Senado e se comporta como "cheerleader" da turma que quer o impeachment de Gilmar Mendes.

O advogado Modesto Carvalhosa, diga-se, voltou com essa patetice e resolveu apresentar uma denúncia contra o ministro no Senado. Quem decidiu lhe fazer festa? Randolfe, o opositor de fachada, e, ora vejam!, Major Olímpio, que é, para todos os efeitos, uma das vozes de Bolsonaro no Senado.

REFORMAS
Nem é preciso ser muito sagaz — bastaria só um pouquinho de esperteza — para intuir que uma CPI do Judiciário só serviria de palco a algumas figuras momescas, que ainda não descobriram por que estão no Senado. A investigação geraria muito barulho e nenhum resultado. Aqui e ali, o que se nota é que há senadores que acreditam que é trabalho de uma comissão de inquérito debater o mérito do voto de ministros do Supremo.

A reforma da Previdência ainda nem deixou o cais. É evidente que tanto mais difícil será o caminho quanto mais conflagrado estiver o ambiente político. A verdade é que são poucos os que realmente querem votar a matéria. Para os especuladores, então, seria uma festa: quanto mais conturbado estiver o ambiente, melhor!

O próprio Bolsonaro não é lá grande entusiasta da coisa, não é mesmo? Espero que se lembre de que só tem uma chance: oferecer uma reforma ao menos razoável. Ou seu governo desmorona. O problema é que lhe falta tudo, inclusive capacidade de liderar. Ou alguns aliados seus não estariam a criar confusão gratuita com o Supremo.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.