STAND-UP DE GUEDES 2: Falou o certo sobre economia e derrapou na política
Em seu discurso, Paulo Guedes acertou na economia, na resposta que deu sobre as relações do Brasil com a China, mas, para não variar, errou no tom ao tratar da política, o que, definitivamente, não é a sua praia. Ainda que possa ter sido engraçado ao se referir aos dotes de masculinidade do presidente, que supostamente lhe permitem enfrentar a questão dos gastos e das reformas, parece impróprio. Vamos ver: sem as "balls", Margaret Thatcher, por exemplo, foi ainda mais corajosa.
Ao fazer um apelo para que os EUA parassem de criar dificuldades para o Brasil integrar a OCDE, afirmou o ministro: "Os EUA são o único obstáculo para que entremos, e é compreensível porque estávamos na esquerda a maior parte do tempo, mas agora estamos na direita". Trata-se de uma bobagem assombrosa porque o governo do esquerdista, para padrões americanos, Barack Obama criava os mesmos obstáculos para o governo do esquerdista, para padrões brasileiros, Lula. Há 36 países na OCDE. Há de tudo: governos de direita, de centro e de esquerda. Lá está até uma protoditadura, como a Turquia.
A OCDE é uma organização de caráter permanente que congrega países, não uma união de partidos conservadores. Essa abordagem está errada. Segundo disse, o governo Bolsonaro junta liberais e conservadores e, por isso mesmo, tem a chance de fazer a reforma. Vendeu muito bem o seu peixe, sem dúvida, e deu um freio de arrumação nas aberrações ditas sobre a China no domingo. Mas o governo Bolsonaro não é o governo Guedes. Ademais, as reformas têm de ser aprovadas no Congresso, e isso depende do voto de deputados e senadores e da articulação política. Está muito além de uma palestra animada para investidores.