64: Defesa contradiz Bolsonaro. Regrediremos 55 anos em 3 meses, generais?
Afirmou nesta segunda o general Rego Barros, porta-voz do presidente Jair Bolsonaro, que é, diga-se, da ativa:
"Nosso presidente já determinou ao Ministério da Defesa que faça as comemorações devidas com relação ao 31 de março de 1964 incluindo a ordem do dia, patrocinada pelo Ministério da Defesa, que já foi aprovada pelo nosso presidente".
Afirmou nesta terça o ministro da defesa, general Fernando Azevedo e Silva, que está em Washington:
"O termo aí, comemoração na esfera do militar, não é muito o caso. Vamos relembrar e marcar uma data histórica que o Brasil passou, com participação decisiva das Forças Armadas, como sempre foi feito. O governo passado [do PT] pediu que não houvesse ordem do dia, este [governo], ao contrário, acha que os mais jovens precisam saber o que aconteceu naquela data, naquela época."
Afirmou ainda nesta segunda o porta-voz:
"O presidente não considera o 31 de março de 1964 golpe militar. Ele considera que a sociedade reunida e percebendo o perigo que o país estava vivenciando naquele momento, juntou-se civis e militares e nós conseguimos recuperar e recolocar o nosso país num rumo que salvo melhor juízo, se tudo isso não tivesse ocorrido, hoje nós estaríamos tendo algum tipo de governo aqui que não seria bom para ninguém."
Disse nesta terça Azevedo e Silva:
"Vamos fazer coisa de soldado, as Forças, a Marinha, o Exército, e as Forças Aéreas. É uma formatura militar, é palestra, é ler a ordem do dia, coisa que sempre a gente faz em todas datas. Em todas as datas históricas do Brasil é feito isso, essa é mais uma".
O vice-presidente, general Hamilton Mourão, tentou amenizar a importância da "comemoração" do golpe determinada por Bolsoanro e contemporizou, enrolando-se desta vez:
"É o primeiro 31 de Março sob a égide do governo de Jair Bolsonaro. Espera-se que haja algum tipo de comemoração, digamos assim, mas ela será, obviamente, intramuros", disse o vice-presidente, general Hamilton Mourão."
Vamos ver.
Inexiste manifestação intramuros para quem dispõe de armas. É simples assim. A depender do que se diga, trata-se de uma ameaça. Até onde sei, as nossas Forças Armadas são reverentes à Constituição, e seu limite deve ser o Artigo 142 da Carta, a saber:
"As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem."
A menos que um militar já reformado chegue ao poder pelas urnas, soldado não governa.
Chegando pelas urnas, não se deve exaltar um período em que os soldados conquistaram o poder civil atropelando-as.
Se isso foi ou não inevitável; se o governo deposto flertava ou não com uma ditadura; se a intervenção se deu para evitar um mal maior, que isso fique para os historiadores e pensadores. Não é papel da tropa arbitrar a respeito. Quem lida com livros, sem tanques, argumenta. Quem, além dos livros, tem os tanques cuida da defesa da pátria, segundo dispõe a Constituição, e não entra em contendas de natureza política.
Digam uma democracia do mundo em que não é assim.
É bom que os militares tomem cuidado neste 31 de março. A depender do que diga nos quarteis, e não ficará intramuros coisa nenhuma, vamos entender se:
– as Forças Armadas atuam segundo o Artigo 142, como se espera;
– se exercem a tutela do governo Bolsonaro;
– se, pior, julgam exercer uma tutela sobre a sociedade brasileira.
Se incidirem na terceira hipótese, o governo Bolsonaro terá sido mesmo um milagre: porque, então, teremos regredido 55 anos em três meses.