GOLPE, SIM! 8: Bolsonaro é denunciado à ONU; MPF investigará atos militares
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Instituto Vladimir Herzog (IVH) denunciaram o presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira à Organização das Nações Unidas (ONU) após a determinação dele para que os quartéis das Forças Armadas comemorem o aniversário de 55 anos do golpe militar de 1964, o que depois o presidente chamou de "relembrar" . A informação foi confirmada ao GLOBO pelo instituto. Na quarta-feira, o Ministério Público Federal (MPF) abriu um procedimento preparatório para investigar as manifestações para "rememorar" o golpe, com o objetivo de analisar se houve irregularidades nas condutas adotadas pelas autoridades civis e militares.
A ordem de Bolsonaro teve efeitos práticos. Na manhã desta sexta-feira, o Exército realizou em Brasília uma cerimônia para "rememorar" o golpe de de 31 de março de 1964 . O ato realizado no pátio do Comando Militar do Planalto começou às 8 horas e durou exatos 30 minutos. Nas palavras do mestre de cerimônias do evento, o "golpe" virou um "momento cívico-militar". Ontem, o Comando Militar do Sudeste realizou uma solenidade com a presença de seis deputados estaduais do PSL, partido de Bolsonaro.
Na petição enviada à ONU, a OAB e o IVH denunciaram o que chamam de "tentativa do presidente e de outros membros do governo – como o chanceler Ernesto Araújo – de modificar a narrativa histórica do golpe que instaurou uma ditadura militar". Para ambas organizações, o regime militar "aterrorizou o país com uma séria de gravíssimas violações de direitos humanos, como perseguições, prisões arbitrárias, torturas, desaparecimentos e assassinatos". Também foram mencionadas no documento as entrevistas recentes concedidas por Bolsonaro sobre o tema. Há um pedido para que os relatores da ONU cobrem explicações do presidente.
Tanto a OAB quanto o MPF tiveram reações imediatas à determinação presidencial, anunciada na segunda-feira pelo porta-voz oficial da presidência, Otávio Rêgo Barros . O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz divulgou uma nota através da assessoria da Ordem em afirmava que a celebração do golpe seria o equivalente a "querer dirigir olhando para o retrovisor, mirando uma estrada tenebrosa". (…)
Por João Paulo Saconi e Aguirre Talento, em O Globo.
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GOLPE, SIM! 1: Ordem do dia "rememora" 1964 e violenta a história.