Líder do governo no Senado diz a coisa certa para o Bolsonaro errado
Leia na Folha a entrevista de Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo no Senado. Na verdade, trata-se de um conselho ao presidente Jair Bolsonaro — que, no entanto, suponho, será inútil. Reproduzo a abertura e comento.
Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) afirma que o governo de Jair Bolsonaro terá que se deslocar para o centro, a exemplo do que ocorreu no passado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT, para conseguir governar.
Bezerra rejeita o bordão da "nova política" e afirma que Bolsonaro, ao contrário do que dizem seus críticos, têm dado atenção a parlamentares, seguindo a tradição de dividir espaço com aliados.
Sua leitura é que a semana se encerra melhor do que começou para o governo. Embora reconheça que o presidente tenha a sua personalidade "e ninguém vai mudar", ele diz que Bolsonaro está começando a compreender que é dele a responsabilidade de formar maioria no Congresso.
Comento
Não deixa de ser surpreendente que Bezerra, que foi ministro da Integração Nacional de Dilma, seja líder do governo Bolsonaro no Senado. E não faço essa afirmação em razão desse passado, mas por ser o único político com experiência a atuar no Congresso com delegação do Planalto.
Mas esperem.
Existe mesmo a delegação?
Vamos ver quando os embates que interessam ao Planalto chegarem à Casa.
Na Câmara, o que se tem até agora é uma soma de desastres.
Bezerra recomenda que Bolsonaro se desloque para o centro. É o que recomenda o bom senso. De fato, Lula, que ele usa como exemplo, fez isso.
Ocorre que o petista nunca foi, de fato, de esquerda — ele lidera um partido de esquerda, o que é coisa bem diferente. Quem ainda não entendeu essa diferença nunca entendeu o PT nem por que a legenda ficou quase 13 anos no poder.
"E Bolsonaro, Reinaldo, é de direita?"
Respondo: ele é bronco, simplório e truculento;
E os pensamentos que consegue vocalizar encontram tradução na extrema-direita.
O conselho de Bezerra é bom. Mas não será seguido.
Lula, no centro, encontrou-se com aquilo que sempre foi. Se Bolsonaro abandona seu lugar na extrema direita, perde identidade. O que o define é a conflagração ideológica. O que o elegeu foi a guerra de todos contra todos. E não existe governo possível, numa democracia, sem a busca de conciliação. Por definição. E por experiência histórica.