Topo

Reinaldo Azevedo

O HAMAS E OS BOLSONAROS 2: Grupo é terrorista, sim! Jihadismo é seu planeta

Reinaldo Azevedo

02/04/2019 20h54

Militantes do Hamas em uniforme e performance características: também gostam muito das armas e não poupam inocentes em nome da causa

O Hamas é um movimento que apela a práticas terroristas. Mata inocentes se preciso em nome de sua luta. O movimento, que governa a Faixa de Gaza, não defende a existência de dois Estados na região em que estão israelenses a palestinos. O seu estatuto é muito claro a respeito. Transcrevo trecho:

– "Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele. (segundo palavras do mártir, Iman Hasan al-Banna, com a graça de Alá)"

– "O Movimento de Resistência Islâmica é um elo da corrente da jihad contra a invasão sionista."

– "O Movimento de Resistência Islâmica sustenta que a Palestina é um território de Wakf (legado hereditário) para todas as gerações de muçulmanos, até o Dia da Ressurreição." – NOTA: O QUE O HAMAS CHAMA "PALESTINA" COMPREENDE TAMBÉM O TERRITÓRIO ISRAELENSE

Está tudo dito aí. Já deixei claro em outras oportunidades e o faço agora: não defendo, por exemplo, que Israel simplesmente se retire de Jerusalém em nome das bases da fundação do Estado do Estado, em 1948, entregando a cidade a uma administração internacional. Quando se lida com um movimento de caráter terrorista, que administra pasrte dos territórios palestinos — e o Hamas manda soltar, prender e matar na Faixa de Gaza —, é preciso cuidado. Movimentos armados também existem na Cisjordânia.

Mas daí a se justificar a anexação de Jerusalém em ato unilateral vai uma grande diferença.

Daí a optar pela política da permanente expansão de assentamentos em território palestino vai outra enorme diferença porque, desse modo, se dá um sinal de que o Estado palestino será sempre uma quimera. Alguma dificuldade em entender que essas escolhas enfraquecem os grupos palestinos moderados e alimenta os radicais? Não!

Na verdade, Benjamin Netanyahu é esperto o bastante para saber disso. A sua política robustece o extremismo do Hamas, que então apresenta a solução armada como única resposta possível. E, bem, quando o confronto vai para o terreno militar, Israel não tem dificuldade nenhuma. Essa é a natureza do jogo. O Hamas é uma bênção para os extremistas de direita de Israel. No terreno diplomático, notem que a anexação de Jerusalém está longe de ser um consenso. Quando a coisa para a troca de balas, os militantes do Hamas tomam surras quase diárias.

O atual governo de Israel é melhor dando tiro do que argumentando. E, ainda assim, está consumindo mais seu estoque de superioridade moral do que de balas. Convém que judeus e não-judeus do Brasil e do mundo não confundam o governo Netanyahu com Israel como um todo ou com o seu povo. Netanyahu não é Israel, assim como Bolsonaro não é o Brasil.

Os ataques ao Hamas, nos termos feitos por esses dois gênios (Flávio e Eduardo Bolsoanro), são, acima de tudo, fruto da desinformação e da imprudência. Prefiro não me expressar nos termos em que o fez o general Hamilton Mourão em novembro, em entrevista à Folha, quando chamou a atenção para o fato de que a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém poderia fazer do nosso país palco de atentados terroristas.

É algo a se considerar entre os itens da prudência, mas essa é apenas uma das inconveniências — ainda que pudesse ser a mais dramática e terrível. O Brasil não tem de tomar essa ou aquela decisão com medo do Hamas. Tem de fazê-lo pensando no seu interesse, no interesse de seu povo.

Prudência, no entanto, não é o forte dessa gente.

E, sim, senhores Flávio e Eduardo: a atuação do Hamas se limita aos territórios palestino e israelense. Organizou-se como um grupo localista que luta contra o que chama "ocupação". Mas o seu planeta é o jihadismo, como está no seu estatuto: "O Movimento de Resistência Islâmica é um elo da corrente da jihad contra a invasão sionista."

Não é para ter medo. É para ter prudência.

Convém não confundir as questões do Oriente Médio com uma guerrilha promovida das redes sociais.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.