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Reinaldo Azevedo

Doria procura evidenciar que é outra a sua direita. Foi golpe. E ditadura!

Reinaldo Azevedo

03/04/2019 06h28

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vai ajeitando o seu discurso em meio a caos conceitual — para ser manso — desencadeado pelo presidente Jair Bolsonaro e pela ruindade do seu governo. Doria se mostra, em entrevista à Folha, defensor da reforma da Previdência e da reforma tributária, diz não querer nem se colar a Bolsonaro nem dele se descolar, mas é evidente que já está se descolando. Eu resumiria assim a coisa: a sua direita é outra.  Algumas respostas são bastante emblemáticas: 1964 foi golpe, o regime militar foi uma ditadura, a polícia tem de atuar segundo os protocolos. Ah, sim: em tempos de demonização da China, o governador abrirá um escritório em Xangai para facilitar as privatizações que pretende promover no Estado.  Sobre Olavo de Carvalho, o guru de extrema-direita que manda em parte do governo Bolsonaro, disse nada ter a dizer: "Nem mora no Brasil". Seguem trechos.

(…)
E como foi a conversa do sr. com o vice-presidente, general Hamilton Mourão? Ele tem sido atacado pelo guru do presidente, o escritor Olavo de Carvalho.
Eu prefiro não emitir a minha opinião sobre Olavo de Carvalho. Até porque não considero importantes as opiniões que ele tem a emitir sobre o Brasil. Porque ele nem sequer vive aqui [e sim nos EUA].

O general Mourão merece respeito e consideração. É uma boa pessoa. Tem procurado se conduzir bem, com estabilidade, bom senso, equilíbrio e preservando a relação com o presidente Jair Bolsonaro.

Prefiro confiar nessa interlocução com o general Mourão, com o presidente Bolsonaro e com os demais aqui citados do que com alguém que nem sequer vive no Brasil e cuja opinião, para mim, não tem valor.

Rodrigo Maia disse que o DEM tem compromisso com a agenda econômica liberal mas não com as pautas conservadoras de outros temas, já que é um partido de centro-direita e não de extrema-direita. E o PSDB?
A reforma tributária não é nem de direita nem de esquerda. Ela é justa e necessária. Todas as medidas do governo Bolsonaro que forem boas para o Brasil contarão com o apoio do PSDB.

O PSDB tem que respeitar os posicionamentos à esquerda e à direita. Tem que condenar os extremismos, numa ponta e na outra. Tem que ter capacidade de diálogo com a esquerda e com a direita, mas com sentimento liberal do ponto de vista econômico, apoiando a livre iniciativa, a desestatização. Para isso, não é preciso desrespeitar nem condenar o passado do PSDB.

Agora, a interpretação de hoje é diferente daquela do passado. Por óbvio. O Brasil mudou, está em uma outra sintonia. O mundo mudou também. O partido tem que estar sintonizado com as perspectivas de hoje.

O PSDB deverá deixar de ser um partido de centro-esquerda para ser de centro.

O partido já não era liberal na economia?
Sim. Mas pode ser mais. E deve ser.

O que o sr. achou da comemoração do golpe de 1964, sugerida por Bolsonaro?
A meu ver, o governo não agiu bem ao promover ou ao pedir que isso fosse comemorado. Eu não creio que o golpe de 1964 deva ser objeto de comemoração. 31 de março foi um golpe. Nós não podemos negar isso.

E depois uma ditadura.
Isso é bastante claro. Mas não estabelece também a necessidade de formar antagonismos, de criar situações de conflito nesse momento. A Comissão da Verdade já foi estabelecida, as reparações já foram feitas. O passado passou.

É preciso respeito também por aqueles que representam o lado militar e que hoje estão no poder. Ou os que estão garantindo a estabilidade democrática do país.

Eu falo isso com a tranquilidade de ser filho de um deputado cassado pelo golpe militar, exilado por dez anos. Eu mesmo fiquei no exílio por dois anos com o meu pai.

Então essa história existiu. Negar a existência de uma história real não é recomendável. Não se pode apagar o passado.

Quem estimulou esse debate foi o próprio presidente.
Vamos olhar daqui para a frente. Reviver uma situação de antagonismo do passado não vai ajudar o Brasil. Repito: agora é hora de paz e de harmonia.

Na questão da segurança, o sr. já disse algo parecido com bandido bom é bandido morto.
Eu nunca defendi morte de bandido. Eu sempre defendi que a polícia deve agir com firmeza e determinação, mas dentro dos protocolos. Eu sempre usei a frase "polícia na rua, bandido na cadeia". Isso [o combate à criminalidade] não justifica ações que sejam descontroladas e que desrespeitem o protocolo da Polícia Militar.
(…)

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.