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Reinaldo Azevedo

Bolsonaro: com pobre, soma de Gengis Khan e Hayek; na Petrobras, Maduro

Reinaldo Azevedo

12/04/2019 17h02

Khan, Hayek e Maduro: Bolsonaro é a soma do pensamento econômico dos três. Um espanto. Uma mistura única

Aplauda-se de pé! Nunca houve liberalismo como este de Jair Bolsonaro, com o endosso de Paulo Guedes!

Que governo formidável!

Vamos ver: o chefe do Executivo disse que daria ao ministro da Economia carta branca para atuar. Já foi rasgada faz tempo. Assim como a dada a Sérgio Moro. Se bem que, nesse segundo caso, não dá para saber o que é pior: com carta ou sem carta.

Quando se trata de falar de direitos de trabalhadores, Guedes e Bolsonaro se mostram, assim, uma mistura de Gengis Khan com Hayek: nota-se neles a fúria terra-queimada do primeiro com a liberdade de mercado, tendente à anarquia, do segundo. Já em matéria de preço de combustíveis, eles estão mais para Nicolás Maduro, o tirano da Venezuela cuja queda Bolsonaro foi discutir na CIA, nos EUA — um de seus crimes de responsabilidade cometidos nos primeiros 100 dias.

Então o presidente brasileiro, aquele que acredita que os nossos trabalhadores devem fazer uma escolha entre empregos e direitos — e a elite reacionária e antipobre do Brasil aplaude de pé — decidiu meter a mão grande no preço do diesel?

APOIO À GREVE DOS CAMINHONEIROS
Explica-se: a greve dos caminhoneiros — que parou o país, que causou uma perda no PIB de um ponto percentual, que tornou ainda mais acanhada a economia brasileira, que contribuiu para enterrar de vez a reforma da Previdência encaminhada por Temer, que conduziu o Brasil ao caos — já era expressão da rede bolsonarista na Internet. O nome do "Mito" era cantado em prosa e verso em todos os piquetes. Gustavo Bebianno, então seu braço direito, discursou num dos pontos de paralisação.

Os que pararam o país tomara gosto pela coisa. E agora têm Bolsonaro como refém.

Os discursos a respeito são de lascar.

DESCULPAS DELINQUENTES
Como Bolsonaro se justifica? Ora, ele não entende nada de economia, diz. Então pode meter a mão grande na empresa.

No dia em que ele resolver invadir a sala de cirurgia de um hospital público para dizer como se deve realizar um determinado procedimento, ao perceber que a coisa não deu certo, pode dizer: "Não sou médico". No dia em que decidir interferir em algum procedimento de engenharia em obra pública, se o troço desabar, pode responder: "Não sou engenheiro!"

E, claro, não poderia faltar a colaboração literalmente bilionária para todos os erros de Onyx Lorenzoni. Não tendo como explicar a barbaridade, resolveu escolher o Item nº 13 do seu MIM (Manual da Incompetência Militante): apelou à era petista e disse que a roubalheira na Petrobras causou mais danos à empresa.

Além de ser uma desculpa técnica e moralmente desprezível, também é um primor de desinformação. A corrupção certamente fez mal à Petrobras — e mal ainda maior fez a forma como a Lava Jato conduziu as coisas. Um dia isso será recontado à luz do Estado de Direito para que se calcule com precisão os danos. De toda sorte, o que quebrou as pernas da empresa foi a intervenção de Dilma no preço dos combustíveis. Exatamente como faz Bolsonaro agora.

PERDA DE R$ 29 BILHÕES
A Bolsa opera em queda de 2,2% enquanto escrevo. A Petrobras puxa a queda, com baixa de 8,63%. Ele está jogando no lixo o esforço de recuperação da empresa feito pelo governo Temer. Os R$ 14 milhões por dia que a Petrobras está perdendo com o recuo do reajuste não são nada. Em valor de mercado, a empresa perdeu, nesta sexta, R$ 29 bilhões.

Isso é que é liberalismo! Gengis Khan com os trabalhadores e Nicolás Maduro com a Petrobras!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.