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Reinaldo Azevedo

BOLSONARO E OLAVO 4: Mourão, o astrólogo e o general da ativa fora do lugar

Reinaldo Azevedo

22/04/2019 22h27

General Rego Barros: pode não parecer, mas há uma farda da ativa por trás do terno. É impróprio

Um dos principais alvos do guru de Bolsonaro, Hamilton Mourão, o vice, comentou os ataques, fazendo referência também às críticas que aquele desferiu ao pensamento militar. Afirmou:
"Acho que o presidente já falou, né?, que ele não viu o tal vídeo. Alguém deve ter postado lá na rede dele. Em relação ao Olavo de Carvalho, mostra o total desconhecimento dele de como funciona o ensino militar. Acho até bom a gente convidar ele para ir nas nossas escolas e conhecer. E acho que ele deve se limitar à função que ele desempenha bem, que é de astrólogo. Pode continuar a prever as coisas que ele é bom nisso".

Há, obviamente, uma ironia aí, mas ainda bastante insuficiente para dar conta da realidade. Carvalho, reitere-se, manda em parte do governo. E está na raiz de alguns surtos que tem Bolsonaro contra a ordem institucional.

O "guru" já começa a criar tumulto também na base de apoio. Delegado Valdir, líder do PSL na Câmara, também criticou o sedizente pensador. Disse considerar um absurdo que alguém que mora nos EUA tenha esse grau de interferência no Brasil e que Bolsonaro "tem de dar um basta no astrólogo", que controla dois ministérios, destacou.

Um dia Donald Trump olhou para Steve Bannnon e se perguntou por que precisaria daquilo. E chegou à conclusão: "Para nada!" Só rendia notícia negativa. E, mesmo sendo Trump, pregou-lhe a sola dos sapatos nos fundilhos. Por aqui, o interlocutor privilegiado do presidente dispensa aos militares um tratamento que a esquerda jamais ousou dispensar — até porque a virulência oca seria, com efeito, desnecessária e contraproducente —, e um general da ativa é obrigado a reconhecer o papel do dito pensador no "combate à mensagem anacrônica das esquerdas". Sim, os militares brasileiros já viveram dias piores. Mas também já viveram melhores, não é mesmo? Certa humilhação a que são submetidos é realmente inédita. E Mourão sabe, de resto, que nada entra nas páginas de Bolsonaro sem a sua concordância. A propósito: alguém que defende que um líder político apele diretamente às massas, dispensando as mediações da democracia, está combatendo o anacronismo, general Rego Barros? Acho que o senhor precisa reler aquele livro de que ambos gostamos: "O Soldado e o Estado", de Samuel Huntington. O senhor o citou dia desses com assentimento. Segundo o que vai lá, o senhor jamais poderia ser, a um só tempo, general da ativa e porta-voz de político. A condição o obriga a dizer aberrações, como a desta segunda. Pense nisso. Volte para o Exército e deixe o a função a cargo ou de um civil ou, ao menos, de um militar reformado.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.