ÓDIO 5: Língua torta expressa pensamento torto. E o tal impeachment
Carlos Bolsonaro, que, tudo indica, também reivindica a condição de pensador, tem um estranho domínio da língua. Numa das postagens, escreve:
"Dou gargalhadas quando algum ser tenta induzir que busco IMPEACHMENT de quem quer que seja! Informar e mostrar a verdade de POSICIONAMENTOS INADEQUADOS e ANTERIORES a qualquer crítica por mim revelada virou motivo para distorções e fakenews. Palavra acima jamais citada por mim."
Vamos ver. Para Carlos, seus eventuais críticos não são pessoas, mas "seres", vocábulo empregado obviamente para evidenciar seu desprezo por aqueles de quem discorda. O "induzir" está fora do lugar: poderia ser "sugerir", "inferir", "especular". Se Carlos quer usar a palavra "induzir", então esse outro que ele despreza, o "algum ser", é que teria de afirmar que ele, Carlos, busca "induzir o impeachment". Talkei? E, por certo, ninguém "revela" uma crítica — a menos que seja alheia. Finalmente, nem haveria como o Zero Dois "induzir" o impeachment de Mourão porque isso simplesmente inexiste na Constituição e na Lei 1.079.
Rodrigo Maia, presidente da Câmara (DEM-RJ), diga-se, arquivou no lixo o pedido de impeachment do vice apresentado pelo, como direi?, notório deputado Marco Feliciano (Podemos-SP). Não fosse a já citada ausência de lei que trate de tal exotismo, há a argumentação por si mesma estúpida. Segundo o parlamentar, o vice estaria conspirando contra o titular, o que caracterizaria uma conduta "indecorosa". Parece que a ideia original é de Olavo de Carvalho, o que evidencia que o dito pensador tem da legislação o conhecimento que exibe da realidade brasileira. Tudo é, sim, de um ridículo atroz. Mas, infelizmente, não é irrelevante porque o que orienta o confronto é uma concepção de poder que tem como inimiga a democracia liberal.