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Reinaldo Azevedo

LULA FALA 2: Doutor delegado atropela tanto a gramática como a ordem legal

Reinaldo Azevedo

26/04/2019 06h43

Luciano Flores de Lima: o superintendente da PF em Curitiba teve a ousadia de tentar desrespeitar uma decisão do Supremo Tribunal Federal . E ainda se arvorou em professor, apesar da gramática

O doutor abre o papelucho em que anuncia a sua disposição de mandar o STF às favas com um pavoroso "tratam-se de pedidos de participação na entrevista a ser concedida pelo custodiado Luiz Inácio Lula da Silva, designada para acontecer em comum acordo para ocorrer em 26/04/2019, entre as 10:00 e 12:00 (…)" Como escrever certo demanda o mesmo esforço de escrever errado — o que costuma variar é o trabalho oculto: a cultura formal do usuário da língua —, lembro a Flores de Lima que "tratar-se" é verbo transitivo indireto. E verbos não concordam com o seu objeto. Logo, comecemos por arrumar a Inculta & Bela: o certo é "trata-se de pedidos".

Na sequência, candidamente, ele afirma que vai dar "integral cumprimento ao contido naquela decisão [do ministro Ricardo Lewandowski], em especial aos direitos constitucionais relativos ao livre exercício da profissão, liberdade de imprensa e de pensamento, assim como de publicidade dos atos administrativos". Nota-se, já pelo tom, que o homem fala como um magistrado Supremo do Supremo. E como ele decidiu, então, realizar tão nobre mister? Escreveu: "Autorizo a presença de outros jornalistas, além daqueles já nominados na decisão". E, ora, ora, para dar a aparência de cumprimento da decisão judicial, determinou que só fariam perguntas os jornalistas que haviam solicitado a entrevista. Será que Sérgio Moro, seu chefe, foi previamente avisado de sua exótica determinação? O ministro nega. Tenho o direito de duvidar.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.