ESCULACHO 3: Bolsonaro condecora os próprios filhos; Flávio é investigado
Bolsonaro (centro), Eduardo (à esq.) e Flávio: o pai presidente decidiu que os filhos são duas figuras notáveis da República. Um deles está enrolado numa investigação
O presidente decidiu distinguir com o segundo grau mais importante da Ordem de Rio Branco, "Grande Oficial", dois de seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro (RJ), um investigado, e o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), ambos do PSL. A função que ocupam não permite a distinção maior — já basta fraudar a regra com Olavo de Carvalho. Carlos não aparece na lista. Vai ver estava de mau humor. Já escrevi aqui que jurisprudência do STF não consideraria nepotismo se o presidente nomeasse ministros os seus rebentos. Também não considero. São políticos eleitos, e o cargo de auxiliar do presidente é… político! No caso da comenda, bem, meus caros, aí é nepotismo arreganhado, na modalidade, como direi?, "moral". Se esses bravos merecem a distinção segundo as regras que regulam a sua concessão, que se esperasse que um outro presidente o fizesse. Essa é uma insígnia concedida por um órgão do Estado brasileiro: o Itamaraty. Bolsonaro não está escolhendo seus auxiliares pessoais. De todo modo, vejam a lista. Nunca antes na história da Ordem de Rio Branco, as condecorações obedeceram com tanta fidelidade ao tal "viés ideológico". Excetuando-se as promoções, foram distribuídas 215. Dá quase para encher um estádio.
Que importância tem isso tudo? O conjunto da obra evidencia despudor. Um dito "intelectual", que fala uma linguagem claramente golpista, como Olavo de Carvalho, que estimula o presidente da República a atropelar instâncias da ordem democrática e a própria hierarquia militar, está recebendo a mesma distinção daquele que é seu principal alvo: o vice-presidente Hamilton Mourão. Moro, chamado ao governo para simbolizar o combate à corrupção, receberá o mesmo galardão de Marcelo Álvaro Antônio, um investigado pela Polícia Federal, órgão subordinado ao ex-juiz. Evidenciando que estamos num governo realmente de família, o presidente não tem pejo de condecorar os próprios filhos. E, entre as mais de duas centenas de distinções, tem-se o samba de uma nota só, pra usar a expressão de Bolsonaro, "no tocante ao viés ideológico".
Os distinguidos pelo presidente, com raras exceções, dado o tamanho da lista, lembram mais um amontoado de cortesãos que são amigos do rei do que uma plêiade de mulheres e homens que fizeram um trabalho notável em favor da República. Não deixa de ser a cara do governo. Rio Branco está se virando no túmulo. De vergonha.
PS: Como? Você votou em Bolsonaro e está em dúvida se o presidente agiu com correção? Faça de conta que o presidente é Lula e que ele acaba de condecorar um filho sob investigação. Veja se a sua dúvida persiste.
