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Reinaldo Azevedo

Bolsonaro baixa decreto ilegal e imoral quando os homicídios estão em queda

Reinaldo Azevedo

09/05/2019 06h53

Jair Bolsonaro decide inundar o país de armas de grosso calibre, com seu decreto ilegal e moralmente criminoso, num momento em que os homicídios estão em queda. E nem se conhecem direito as razões, embora haja pistas. Segundo levantamento feito pelo G1, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Púbica, houve uma queda de 12,8% no número de homicídios em 2018: 51.589 ocorrências contra 59128 em 2017, quando o país atingiu o recorde. E se tratou de uma queda consistente porque verificada em 23 das 27 unidades da federação.

É bem verdade que 2017 foi um ano atípico em razão da guerra entre facções criminosas, o que elevou o número de ocorrências. Mobilizações especiais das Polícias em vários Estados — incluindo a intervenção federal no Rio — acabaram colaborando para o declínio de homicídios.

No dia 18 de abril deste ano, informava o G1:
Os dois primeiros meses deste ano confirmaram a tendência de queda nas taxas de homicídio no Brasil, movimento que começou ainda em 2018. Apesar da excelente notícia, os dados estão longe de apontarem para um quadro de redução ao longo do ano e apenas aumentam a responsabilidade dos novos governos estaduais e federal para a manutenção ou melhoria dos resultados.
O desempenho de algumas regiões se destaca. O Nordeste, por exemplo, que até 2017 vinha se sobressaindo como a região mais violenta do Brasil, manteve nos dois primeiros meses deste ano queda em todos os nove estados, como já havia ocorrido no ano anterior.
A grande surpresa foi o Ceará, que mesmo depois da onda de quase 300 ataques feitos por facções criminosas locais entre janeiro e fevereiro, conseguiu reduzir as taxas em 58%. Os ataques foram uma represália vinda dos presídios depois que o governo prometeu não mais separar as penitenciárias de acordo com a facção. A medida acabou levando a uma aliança entre os grupos criminosos na tentativa de atacar o estado, provocando a interrupção de conflitos violentos entre eles.
O Rio Grande do Norte, que em 2017 tinha alcançado o primeiro lugar no ranking de homicídios no Brasil depois do massacre no presídio de Alcaçuz, manteve a queda no primeiro bimestre deste ano (-41%), confirmado a tendência de redução em 2018. Pernambuco (-33%) também segue como um dos líderes da diminuição das taxas desde 2018
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(…)
Retomo
Não se estudaram ainda devidamente os fatores que concorreram para essa tendência. O governo Temer criou, por exemplo, em junho do ano passado, o Sistema Único de Segurança Pública, que centraliza os dados sobre segurança e busca integrar o trabalho dos vários órgãos que atuam na área.

Caso o decreto ilegal e imoral de Bolsonaro entre em vigor, os efeitos deletérios não se farão sentir de imediato, mas é claro que virão.

Um governo responsável criaria um grupo de trabalho para saber: "Onde foi que acertamos no ano passado e como podemos pôr fim ao morticínio no país?" Afinal, as quase 52 mil ocorrências do ano passado ainda são um descalabro.

Mas não! Prevaleceu a tara armamentista. Ou coisa pior.

E o sangue vai correr.

E não será verde-amarelo.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.