Negando o que disse sobre Moro. E o pênis, o chavão e os “nova-iorquínis”
Em Dallas, o presidente Jair Bolsonaro desdisse o que disse em entrevista a Milton Neves, na rádio Bandeirantes.
Afirmou nesta quinta sobre a promessa que teria feito a Sérgio Moro de que o indicaria para o Supremo:
"Quem me acompanhou ao longo de quatro anos sabe que eu falava que precisamos de alguém no Supremo com o perfil de Moro. Não teve nenhum acordo, nada, ninguém nunca me viu com Moro [antes da eleição]".
No domingo, na entrevista à rádio, afirmou:
"Eu fiz um compromisso com ele, porque ele abriu mão de 22 anos de magistratura. Eu falei: 'a primeira vaga que tiver lá [no STF], está à sua disposição
E ainda:
"Eu vou honrar esse compromisso. Caso ele [Moro] queira ir pra lá [STF], será um grande aliado. Não do governo, mas dos interesses do nosso Brasil dentro do STF".
Na sequência, Moro veio a público para assegurar que a conversa não tinha existido.
Um dos dois estava mentindo. Bolsonaro agora diz que era ele próprio a mentir. Tudo indica que falava a verdade antes.
Ocorre que a revelação caiu como uma bomba no Supremo, nos meios jurídicos em geral e também no Congresso.
Um tema dessa gravidade é tratado assim, com essa ligeireza. Ora diz uma coisa, ora outra. Para ele, tanto faz.
Esse é Bolsonaro. Ele não tem noção da importância do cargo que ocupa e de suas implicações. Seu despreparo é assombroso mesmo para quem não apostava um vintém na sua capacidade de governar o país
TAMANHO DO PÊNIS
Até quando faz uma piada, o resultado é grosseiro. Vejam o caso de um homem oriental que quis fazer uma foto com ele no aeroporto de Manaus. Tudo indica que não dominava direito o português. O rapaz fala um "gostoso" como a indicar algo positivo, bacana… O presidente brasileiro levanta as mãos, já num claro sinal de que apelava à conotação sexual da palavra. Em seguida, faz um gesto com o indicador e o polegar, referindo-se ao suposto tamanho do pênis do interlocutor, e pergunta: "Tudo pequeninho aí?"
Ele e os puxa-sacos acham a coisa sumamente engraçada.
Dizer o quê? Nesse universo Bolsonaro, quando se vê alguém de olho puxado, logo se pensa no tamanho do pênis.
É o tiozão do churrasco no comando do país.
"Ah, ele estava brincando…" Bem, eu sei. Ou teria de supor que estava mesmo interessado no chamado "órgão viril" do outro. Ainda que estivesse, não haveria de ser em público. Só evidencia que não tem noção de limites. Na agressão ou na graça.
CHAVÃO E "NOVA-IORQUÍNIS"
Ao fim do discurso na homenagem que recebeu da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, Bolsonaro resolveu improvisar e adaptar o seu slogan de campanha e de governo às circunstâncias, saudando os americanos. Tentou dizer: "O Brasil e os EUA acima de tudo; Deus acima de todos". Mas não tinha conseguido decorar o texto e se atrapalhou, como mostra o vídeo abaixo. Disparou:
"E termino com o meu chavão de sempre. Meu muito obrigado a todos! Brasil e Estados Unidos acima de tudo. O Brasil… acima de todos".
Trocou a palavra "slogan" por "chavão", não sem antes expressar apreço também pelos "nova-iorquínis".
Fosse apenas essa figura, vamos dizer, algo momesca, vá lá. O problema é que Bolsonaro propaga a truculência como um valor. Na condição de animador de redes sociais e inspirador de memes — entre aliados e adversários —, é um portento. Ocorre que esse despreparo tem custado caro ao país.
PARA ENCERRAR
Ah, sim: observem lá na fala inicial que o presidente tem a preocupação de negar que tenha se encontrado com Moro antes da eleição. É que ele e o ministro sabem que crescem os rumores em Brasília de que o entendimento com o então juiz se deu ainda antes do primeiro turno. Convenham: isso pode falar um tanto sobre Bolsonaro. Mas fala ainda mais sobre Moro.