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Reinaldo Azevedo

Um furo de enfoque: o verdadeiro autor de manifesto golpista é Bolsonaro

Reinaldo Azevedo

18/05/2019 07h14

Um certo Paulo Portinho, 46 anos, filiado ao Novo e candidato não-eleito a vereador do Rio, diz ser o autor daquele texto golpista que o presidente Jair Bolsonaro trouxe à luz. Ele é professor de finanças, com livros publicados na área, e funcionário da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Tenho uma novidade para o próprio Portinho: ele está enganado. O verdadeiro autor é Jair Bolsonaro — num momento de surpreendente articulação, ainda que o troço seja de uma ruindade espantosa. Explico.

Portinho, com efeito, publicou nas redes sociais uma ladainha idêntica à de Bolsonaro. Isso aconteceu no dia 11. Fora de seu círculo de amigos, ninguém ficou sabendo. E na obscuridade a coisa teria permanecido não fosse a iniciativa de Bolsonaro. No preciso momento em que o presidente da República endossou aquele conteúdo e pediu que fosse passado adiante, Portinho teve expropriada a autoria. O que era só um chororô contra a política tornou-se uma litania golpista.

O autor da peça original se diz assustado com a repercussão. Não deveria. O texto que fez barulho não é o seu, mas o do presidente. Ri das especulações de que seria aluno de Olavo de Carvalho ou funcionário da CIA. A CIA é ruim e erra muito, mas creio que nem tanto. Um aluno de Olavo poderia, sim, ter escrito aquela bobajada. O que lá vai não se distingue muito da pregação feita pelo autoproclamado escritor e filósofo.

Não se assuste, pois, o Portinho. Ele não tem nada com isso. Deixo a viva recomendação, claro!, de que estude um pouco de política antes de sair por aí expressando as suas vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Mas isso eu recomendo a qualquer um. De resto, a sua síntese da história brasileira é precária, de clara inspiração autoritária, mas é imobilista. A gente nota que, para ele, a vaca já foi para o brejo, e o Brasil permanecerá no vale de lágrimas.

Quando Bolsonaro assume a autoria da coisa, aí tudo muda de figura. Está no comando do país. E fica claro que o considera ingovernável com o Congresso que aí está, com o STF que aí está e, ora vejam, com os militares que aí estão.

Logo, para que pudesse trabalhar direito, teria de se livrar de toda essa gente.

Com a devida vênia a Portinho, seu texto é só uma besteira; já o de Bolsonaro é um manifesto golpista.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.