APESAR DE VOCÊ 5: Tentação bonapartista estará presente no caos ou no êxito

O Senado também deu lugar a discursos muito duros contra os desacertos do governo. O senador Otto Alencar (PSD-BA), fez um bom resumo da situação:
"A crise que foi gestada lá, no Palácio do Planalto (…). Ninguém aqui é culpado pela exoneração do ex-ministro da Educação, o [Ricardo] Vélez; pela crise do [Gustavo] Bebianno; pelos problemas que aconteceram com o Olavo de Carvalho, com o Santos Cruz; com o Exército brigando com o Olavo de Carvalho. Ninguém é culpado por isso. A tormenta que tem acontecido no Palácio do Planalto é muito gestada no próprio Palácio do Planalto ou por seus assessores".

Depois de listar 14 recuos do presidente, referiu-se aos protestos:
"Não tememos, absolutamente, nenhum tipo de ameaça, nem de rua, nem do Congresso Nacional, porque todos aqui chegaram por coragem, por altivez, por fibra e decisão de ser Senador da República para defender os interesses do Brasil".

Restou a Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do Jair, afirmar que o pai está quebrando paradigmas e coisa e tal. Não teve coragem de peitar uma esmagadora maioria de discursos com críticas contundentes ao governo. Afirmou:
"Minha palavra é no sentido de falar que nunca recebi aqui no Senado nada que seja não republicano. Posso falar da vontade construtiva de grande parte de senadores e de que, pelo menos, nunca recebi de ninguém aqui um pedido que não fosse publicável ou que não fosse republicano".

Digam: não ficou parecendo discurso de senador de oposição?

Sim, o Congresso tem de buscar uma pauta virtuosa, apesar de Bolsonaro. Mas não pode se descuidar: a agenda autoritária estará sempre presente. O Brasil vive um péssimo momento. E a tentação bonapartista está aí. Caso se vençam os entraves principais, e o país volte a crescer com qualidade, não duvidem: essa tentação bonapartista ameaçaria a ordem democrática do mesmo modo. Os Napoleões de hospício, porque de hospício, não entendem a realidade como um limite às suas aspirações.