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Reinaldo Azevedo

A reforma é necessária, mas sem chantagem de Guedes e ameaças de Bolsonaro

Reinaldo Azevedo

24/05/2019 17h23

Paulo Guedes: ou a reforma como ele quer, ou ele pede demissão. Assim não pode ser. (Foto: Cristiano Mariz/VEJA)

"Eu não sou irresponsável. Eu não sou inconsequente. Ah, não aprovou a reforma, vou embora no dia seguinte. Não existe isso. Agora, posso perfeitamente dizer assim: 'Olha, já fiz o que tinha de ter sido feito. Não estou com vontade de ficar, vou dar uns meses, justamente para não criar problemas, mas não dá para permanecer no cargo'. Se só eu quero a reforma, vou embora para casa".

Esse é Paulo Guedes, ministro da Fazenda, em entrevista à revista "Veja".

"É um direito dele, ninguém é obrigado a continuar como ministro meu. Logicamente ele está vendo uma catástrofe, é verdade, eu concordo com ele [Guedes], se nós não aprovarmos algo realmente muito próximo ao que enviamos no Parlamento. O que Paulo Guedes vê, e ele não é nenhum vidente, nem precisa ser, para entender que o Brasil vai viver um caos econômico sem essa reforma".

Esse é Bolsonaro reagindo à entrevista de seu ministro.

Vamos lá.

1: Não! Bolsonaro não disse um "sai se quiser, tanto faz para mim". Ele reconhece que a gravidade apontada por seu ministro caso a reforma seja pífia. Mas vai dizer o quê? Mais do que isso, seria implorar. E aí Guedes vira chefe de Bolsonaro — o que, em certo sentido, é verdade.

2: É evidente que Paulo Guedes demonstra que que não tem traquejo político necessário para um cargo que é… político. Ele faz muito mal em estabelecer um "se não isso, então aquilo…" Se há coisa que a gente sabe que não funciona em política é o "sem mim, vem o dilúvio".

A propósito: é a impressão passada por Bolsonaro de que "depois de mim, vem o dilúvio" que levou ao impasse.

Notem que conjunção ruim se cria: dois dias antes das manifestações convocada pelo presidente contra o Parlamento e contra o STF, o ministro da Economia anuncia que pode pegar o avião e ir embora caso não aconteça o que ele quer.

Sei lá se ele vai obter o que deseja assim. Seria preciso saber o que mais ele ou Bolsonaro vão pedir ao Parlamento depois:
1 – a fórmula do presidente poderia ser esta: "Ou fazem o que quero, ou apelo às ruas";
2 – a de Guedes: "Ou fazem o que quero, ou pego o avião e vou embora".

Aí é melhor a gente optar pela monarquia absolutista.

Sim, a reforma é necessária. Mas é preciso mais decoro no trato da questão política. Essa questão já teria sido resolvida Não fosse a decisão deliberada de Bolsonaro de ignorar e hostilizar o Parlamento.

A reforma da Previdência não pode se dar na base chantagem política. Seja a de Bolsonaro, seja a de Guedes.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.