Se Bolsonaro dobrar 2 Poderes a chutes, vai chutá-los com mais força depois
O general Santos Cruz, da Secretaria de Governo, tem dito a parlamentares, leio no Painel, da Folha, que, depois da aprovação da Previdência, as coisas se assentam, e o governo buscará o diálogo.
Pois é…
O general pensa com racionalidade e deve imaginar que seus interlocutores também o façam. Nessa promessa, há perguntas obrigatórias que não têm resposta. Vamos antes a uma constatação.
Por óbvio, o presidente precisa mais do Parlamento hoje do que precisará depois da reforma da Previdência, ainda que haja uma infinidade de coisas pela frente. Mas, é fato, a mudança do sistema previdenciário é um elemento vital para o governo.
Caro general, responda: se, hoje, precisando desesperadamente do Congresso, Bolsonaro o trata aos chutes, por que passaria a tratá-lo com mais urbanidade depois?
Se Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara e principal aliado pró-reformas, está sendo há dias demonizados pelos organizadores do protesto que o presidente convocou e incentivou, por que o tratamento mudaria quando o mandatário se sentisse menos dependente do Congresso?
Se Bolsonaro, precisando muito do Congresso e do Supremo, canta, depois de realizado, as glórias de um protesto que malhou abertamente o tribunal, o presidente da Câmara e até o vice-presidente da República, o que há de fazer quando a reforma for aprovada?
Não! Não estou recomendando que a reforma seja rejeitada, não! Só estou afirmando que não haverá mudança nenhuma e que as relações tendem a piorar.
Bolsonaro não aprendeu uma lição básica do bom militar, caro general, até porque foi um mau militar: humildade na vitória e altivez na derrota. Ele é truculento nos dois casos.
O general há de convir: ele próprio, talhado para ser um dos homens fortes do governo, só não foi xingado por Olavo de Carvalho de santo. O resto valia, como diria Tim Maia. E, no entanto, o homem foi distinguido com o grau máximo da Ordem do Rio Branco e foi defendido em cena aberta pelo presidente e seus filhos.
E olhem que Santos Cruz Cruz é um militar, né?, categoria de humanos que Bolsonaro vê um tanto acima da ralé civil.
Se, aos chutes, Bolsonaro arrancar do Congresso e do Supremo o que quiser, vai chutá-los ainda mais. Porque se terá provado a eficiência de um método.