Lava Jato torra a riqueza e os empregos: Odebrecht em recuperação judicial
Leiam o que informa a Folha. Volto em seguida:
A Odebrecht S.A. já está com tudo praticamente pronto para a entrada do seu pedido de recuperação judicial, que deve ser protocolado em breve, provavelmente no final da tarde desta segunda-feira (17).
A lista de credores ainda está sendo definida, mas o calote deve ficar entre R$ 85 bilhões e R$ 90 bilhões. Será a maior recuperação judicial já realizada no país, superando a da empresa de telefonia Oi, que chegou a R$ 64 bilhões.
Segundo fontes próximas ao processo, os membros do conselho de administração passaram o fim de semana analisando a questão e já teriam concordado que é a única saída possível dada a crise financeira do grupo.
O grupo baiano enfrenta dificuldades desde a deflagração da Operação Lava Jato, que desvendou um esquema de corrupção em que executivos da Odebrecht pagavam propinas a políticos e funcionários públicos para obter obras.
Além da holding, a recuperação judicial deve envolver cerca de 15 empresas do grupo, mas as companhias operacionais – OEC (construção civil), OR (incorporação imobiliária), Enseada (estaleiro), Ocyan (petróleo) e Braskem (petroquímica) – não serão incluídas.
Os maiores credores são os bancos públicos, com destaque para o BNDES. Logo depois estão Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Outro grupo de credores relevantes são os detentores de bônus no exterior.
Os bônus, que chegam a R$ 12 bilhões, entraram na recuperação judicial porque foram emitidos por uma empresa chamada OSL, que é ligada a holding ODB. Todavia, são garantidos pelo braço de construção do grupo, a OEC. Por conta disso, haverá uma negociação separada.
Dos cerca de R$ 85 bilhões em débitos, R$ 13 bilhões são as chamadas dívidas extraconcursais, que entram no processo de recuperação judicial, mas tem garantias específicas. Neste caso, as garantias são as ações da petroquímica Braskem, a empresa mais saudável do grupo.
Os bancos privados Bradesco, Santander e Itaú tem suas dívidas incluídas nessa categoria, o que os deixa em situação mais confortável, embora as ações tenham se desvalorizado significativamente depois que a holandesa LyondellBasel desistiu de adquirir a Braskem.
BNDES e BB possuem apenas parte de sua dívida com esse aval. A Caixa tem garantias bem mais frágeis e, por conta disso, vinha pressionando a Odebrecht e os demais bancos a também obter ações da Braskem.
Para forçar a negociação, a Caixa executou duas dívidas já vencidas da Odebrecht: R$ 650 milhões na Arena Corinthians e R$ 250 milhões no Centrad, em Brasília. Segundo fontes próximas à empresa, as execuções precipitaram o pedido de recuperação judicial, que já era previsto.
A Odebrecht S.A decidiu não incluir no processo perante à Justiça suas dívidas com o Ministério Público Federal para não colocar em risco seu acordo de leniência. Somente no Brasil, a empresa aceitou pagar R$ 2,7 bilhões em multas para compensar os crimes cometidos por seus executivos.
Conforme apurou a reportagem, o grupo vai pleitear a redução dessa multa e o alongamento dos prazos de pagamento, mas preferiu fazer a negociação diretamente com o MPF.
Comento
Eis a forma estúpida que o combate à corrupção tomou no Brasil. No mundo inteiro, quando empresas são flagradas cometendo irregularidades, pagam a multa que têm de pagar, seus dirigentes são afastados e punidos, mas as empresas continuam a operar.
No Brasil, as coisas vão de cambulhada. A Lava Jato quebrou as empresas de construção pesada. O desastre engole empregos, tecnologia nacional, expertise, tudo.
Essa é apenas uma das consequências nefastas da hipertrofia do Ministério Público no país. Como estamos notando, o calvário não tem fim.
Engana-se quem acha que os prejudicados com a derrocada da Odebrecht são apenas os sócios controladores. Não! É o país. São os milhares de desempregados.
Nove empreiteiras demitiram quase 350 mil pessoas entre 2014 e 2018.
Se e quando o país voltar a crescer, esse mercado vai ser ocupado. E não será por empresas brasileiras.
Vamos gerar empregos e dividendos para os outros.
"Ah, então não se deve investigar a corrupção?" Claro que sim! Sem quebrar as empresas. Como se faz na gringolândia.
Para tanto, é preciso mudar com urgência as leis 12.846, que trata dos acordos de leniência, e a 12.850, que cuida das delações premiadas. É preciso que a gente pare de torrar a riqueza e os empregos nacionais sob o pretexto de combater a corrupção.