JAIR JÁ FOI 4: General da ativa na ação política usa saliva ou tanques?
A demissão do general da reserva Santos Cruz da Secretaria Governo na própria quinta, dia em que se apresentou o relatório da Previdência, chega a ser irresponsável. A articulação política do Planalto estava sob sua responsabilidade, tarefa compartilhada com o inexistente Onyx Lorenzoni. Cruz já havia estabelecido uma relação cordial com lideranças do Congresso. Quem assume o lugar é o general da ativa Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, comandante militar do Sudeste e membro do Alto Comando do Exército. Tomara que o homem se saia bem na função. Sentido não faz. Baptista Ramos é cordial e boa-praça. Mas será a primeira vez que um paraquedista, um homem treinado para a ação, será paraquedista na coordenação política. O que ele tem de especial? É um bolsonarista de primeira hora e não se duvida de que estará com Bolsonaro para o que der e vier. De ministros, espera-se tal comportamento, claro! Mas tudo fica mais fácil quando eles só têm a seu favor a saliva do convencimento. Baptista Ramos também tem tanques e soldados, o que não combina com a política. A menos que se queira deixar uma espécie de ameaça no ar. É necessário dizer isso, ora bolas! O outro general da ativa, Rêgo Barros, também um três-estrelas (general de divisão), é porta-voz. Ele se diz fã de um livro de que também gosto: "O Soldado e O Estado", de Samuel Huntington. Pois é! Huntington é um conservador e defende o que chama de "controle civil objetivo das Forças Armadas". Em miúdos, isso quer dizer o seguinte: militares da ativa não servem a governos, mas ao Estado. Dois militares da ativa na gestão abrem a vereda para uma politização ainda maior das Forças Armadas. Vamos ver: a crise que envolve Sergio Moro e o vazamento das conversas indevidas com Deltan Dallagnol, por exemplo, se tornou um grave problema político para o governo. Quando Baptista Ramos cuidar do assunto, quem o fará: o ministro ou o soldado que dispõe de tanques? Se os tanques não contam, que passe, então, para a reserva. Alguém nota alguma falha no raciocínio?
Continua aqui
Correção: à diferença do que eu havia afirmado no post, Rêgo Barros não é general de exército (quatro estrelas); é general de divisão: três estrelas.