Carlos apoia fala anti-Heleno que prega cana para comandante da Aeronáutica
Publiquei ontem um post em que analiso a fala do general Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete da Segurança Institucional), em Brasília, no ato em defesa do ministro Sérgio Moro. Numa postura bastante agressiva, dura, que tem marcado sua fala nos últimos dias, Heleno afirmou que o desempenho do presidente no G-20 contrariou as expectativas dos chamados "esquerdopatas" — palavra que criei para designar pessoas que, entre os fatos e a pura estridência ideológica de esquerda, preferem a segunda. Adverti o general de que o que causa dificuldades ao governo não são os "esquerdopatas", mas os "direitopatas", que são os que preferem ignorar a realidade, mas aí com o viés de direita — ou de extrema-direita.
Pois é… Mal sabia eu que, enquanto escrevia tal texto, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o mais influente junto ao pai dos três filhos políticos do presidente, encarregava-se de deixar claro que eu estava mesmo certo. E, ora vejam, ele o fazia colocando no alvo ninguém menos do que o próprio Heleno. O general está na mira. E o troço não começou agora. Qual é o ponto?
Uma página de extrema-direita no Twitter, a @snapnaro, traz um vídeo de uma senhora chamada Regina Villela, identificada como jornalista, segundo quem o sargento Manoel Silva Rodrigues, flagrado, na Espanha, com 39 quilos de cocaína num avião da FAB que serve à Presidência, pertence a uma estrutura muito maior. Sabem qual? Sim, ele, o Foro de São Paulo!
Segundo a teoria da imaginosa mulher, o próprio Foro deu um jeito de "sacrificar o seu peão só para desmoralizar o presidente". Referindo-se diretamente ao general Heleno, ela diz: "O presidente está cercado de agentes do Foro de São Paulo entre os militares mais próximos (…) Ou seja: tem gente da FAB, da Abin, do Cerimonial… Todo mundo está envolvido nessa história." Ela defende que Bolsonaro prenda por 30 dias Antônio Carlos Moretti Bermudez, comandante da Aeronáutica, e os responsáveis pela Ala I [Área Militar do Aeroporto Internacional de Brasília], do GTE [Grupo de Transporte Especial] e toda a tripulação do avião. Na verdade, empregou a expressão "30 dias de cana"… A página responsabiliza diretamente Heleno pelo episódio.
Até aí, vocês poderiam dizer: "Que bobagem! Há doido pra tudo". É verdade. Ocorre que Carlos resolveu fazer um comentário na tal página, endossando as críticas. Escreveu:
"Por que acha que não ando com seguranças? Principalmente aqueles oferecidos pelo GSI? Sua grande maioria podem ser até homens bem intencionados e acredito que sejam, mas estão subordinados a algo que não acredito… Tenho gritado em vão há meses internamente e infelizmente sou ignorado. Não digo que sou dono da razão e evitei até aqui ao máximo me expor desse jeito, mas não está dando mais. Estou sozinho nessa, podendo a partir de agora ser alvo mais fácil ainda tanto pelos de fora tanto por outros (sic). Há muito mais nisso tudo. Mas se [leia-se: "só"] viemos aqui para deixar uma mensagem! Creio que essa faz uma parte dela, mesmo que isso custe minha vida! Um abraço!"
Dizer o quê? Heleno é um dos mais fiéis escudeiros do presidente. Sim, eu mesmo recomendei aqui que deixasse a estridência de lado e se dedicasse ao papel de ser mais um elemento de contenção do que de exacerbação dos ânimos. Por isso censurei a sua presença no ato em defesa de Moro.
Ele está sob visível tensão. Um aliado seu, Santos Cruz, foi demitido da Secretaria de Governo depois de longa fritura. No comando da frigideira, estava Carlos. Outro estrelado, Floriano Peixoto, deixou a Secretaria-Geral da Presidência e foi para os Correios. A Abin, subordinada a Heleno, entrou na mira do bolsonarismo radical depois do episódio do sargento traficante. Ocorre que, justiça se faça, quem escolheu o comando da Agência Brasileira de Inteligência não foi o general. Bolsonaro resolveu nomear o delegado da PF Alexandre Ramagem Rodrigues, que cuidou de sua segurança pessoal durante a campanha, para cuidar da agência.
A verdade, meus caros, e eu escrevi bastante a respeito há quase dois meses, é que Heleno está na mira da extrema-direita bolsonarista não é de hoje, pouco importando se ele radicaliza o discurso ou não. A chamada "ala ideológica" do poder avalia que ele é um filtro incômodo, que impede Bolsonaro de ser quem realmente é. Não impede. Ocorre que os extremistas querem mais.
