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Reinaldo Azevedo

Há dois meses, em uma série de posts, antecipei a futura fritura de Heleno

Reinaldo Azevedo

02/07/2019 08h14

Os destaques na homepage do blog pra os posts que anteviam fritura de Augusto Heleno

No dia 6 de maio, escrevi três posts que tinham como chave a expressão "BOLSONARO X MILITARES". O primeiro deles tinha o seguinte título: "BOLSONARO X MILITARES 1: A ordem é derrubar Santos Cruz; Augusto Heleno vem depois".

Lá se lê o seguinte:
Hamilton Mourão, vice-presidente da República, está, digamos, "mais comportado". Já foi mais eloquente na exposição de pressupostos corretos sobre democracia e governança do que nos últimos dias. Atendeu a apelo de colegas generais da reserva que estão no governo. É inequivocamente audível que anda mais silencioso. Ponto para a ala porra-louca do bolsonarismo?

É bem verdade que, em ambientes conflagrados como o deste governo — que, convenham, não precisa de uma oposição a lhe criar problemas —, o silêncio pode ser mais preocupante do que a loquacidade. Ocorre, meus caros, que os companheiros de farda de Mourão têm uma marca de origem no seu pensamento e na sua formação, uma verdadeira cicatriz, que os impede de entender o que está em curso. São, sim, herdeiros intelectuais do positivismo. Para eles, as ações, que têm de estar assentadas no conhecimento científico e na experiência, valem por seus resultados. O que é contraproducente escapa à sua compreensão.

Considerem que a política é coisa bem mais complexa do que isso. Os generais não estavam preparados para ser alvejados pelo próprio governo — em particular, pelo presidente da República. E estão perplexos. Não sabem o que fazer. Mourão silenciou. O silêncio é inútil porque o ódio que os bolsonaristas lhe devotam não se resume ao conteúdo de suas intervenções. Seu grande defeito, aos olhos da turma, é outro: ele não pode ser demitido. E é o primeiro na linha sucessória. Silenciado Mourão, a ordem é pegar Santos Cruz, secretário de Governo. Desta feita, o objetivo é derrubá-lo.

E, atenção para o que vêm agora: nas esferas mais altas da chamada "ala ideológica do bolsonarismo", não pensem que se nutre grande amor pelo também general Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete da Segurança Institucional). Os valentes o consideram inepto politicamente e o acusam de impedir que o presidente, como posso dizer?, seja ele-mesmo, autêntico. Sintetizo: para que Bolsonaro venha a ser aquele que a tal ala ideológica deseja, também Heleno tem de cair fora.

Na cabeça dos malucos, chegará essa hora. Não suportam o fato de o general ser visto como uma espécie de consciência última do presidente, como se este estivesse sob a sua tutela. Não está, é bom que se diga. O chefe do Executivo, já escrevi aqui, queria o prestígio que lhe conferem as Forças Armadas. Mas já deixou claro que tem suas próprias — e más — ideias sobre o país e o mundo….

Em "BOLSONARO E OS MILITARES 3: Presidente humilha militares e quer falar a quartéis", escrevi:
Sim, o general Augusto Heleno também está na mira. E não há nada que ele e seus colegas generais possam fazer para evitar o ataque. Ingênua, a cúpula militar chegou a imaginar — muito especialmente o general Villas-Boas, ex-comandante do Exército — que Bolsonaro poderia ser um instrumento daquela ideia abstrata de ordem que, a seus olhos, havia sido corrompida em anos recentes. Só agora os militares que pensam se dão conta de que Bolsonaro é que os usa como instrumentos da desordem institucional de que ele se tornou beneficiário.

VOLTO: CONTATO DIRETO
Bolsonaro, na verdade, já estava em contato direto com os quarteis por intermédio de Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, comandante do Sudeste. Sua interlocução com o general independia do Ministério da Defesa. E, para a surpresa da própria turma da reserva, resolveu mandar um comandante de tropa, um paraquedista, um general da ativa, para cuidar da articulação política no lugar de Santos Cruz.

Vamos ver o que dirá Bolsonaro depois de seu filho endossar um vídeo que prega a prisão do comandante da Aeronáutica, de deixar claro que não confia no GSI e de sugerir que sua vida corre risco por isso. É espantoso? É. Mas é assim. Segundo revelou o porta-voz Rêgo Barros, também general, o presidente sempre estará ao lado daquele que chama "sangue do meu sangue".

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.