Moro fala à Câmara: já expôs o raciocínio típico das ditaduras corruptas
O ministro da Justiça, Sergio Moro, fala, em sessão conjunta, na condição de convidado à Comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público, à de Direitos Humanos e Minorias e à de Fiscalização Financeira e Controle. Tenta explicar o escândalo dos vazamentos de suas conversas com o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato. É claro que escreverei um texto sobre o evento.
Por enquanto, basta destacar que o ministro insiste naquele discurso impossível: não reconhece os diálogos, mas sugere que, se verdadeiros, nada teriam de impróprio ou ilegal. Não há evidência de fraude. Quanto à segunda parte, trata-se de uma mentira: os diálogos, se ocorreram, violam o Inciso IV do Artigo 254 do Código de Processo Penal e uma penca de artigos do Código de Ética da Magistratura.
Moro abriu a sessão com a conversa mole de sempre:
"A meu ver existe uma tentativa criminosa de invalidar condenações e o que é pior: a minha principal suspeita é que o objetivo principal seja evitar o prosseguimento das investigações. Criminosos que receiam que as investigações cheguem até eles e estão querendo se servir desse expediente para impedir que as investigações prossigam."
Nada como uma boa teoria conspiratória, não é mesmo?
Qual é a essência moral de um argumento como esse? Em nome do combate à corrupção, vale tudo. E quem tenta devolver a investigação ao Estado de Direito é, então, amigo da corrupção ou está interessado no crime.
É a vigarice intelectual típica de todo pensamento autoritário.
Todos os ditadores se mostram sempre incomodados com a corrupção e acusam seus adversários de cometer esse crime e de querer escondê-lo. E assim se impõem, cercados de corruptos.
É o caso de Moro?
Bem, ele adotou o raciocínio dos ditadores. Resta ver agora a qualidade daqueles que o cercam, inclusive no governo.