A vaia no estádio, a democracia e as pessoas que estão fora do lugar
"As vaias e os aplausos são direitos dos cidadãos com os quais ele convive dentro da normalidade democrática. Ele [Bolsonaro] reitera que continuará a despender o máximo das suas forças em benefício da condução do país e que está com a consciência tranquila".
As palavras são do porta-voz da Presidência, Rêgo Barros.
É verdade. Vaiar faz, literalmente, parte das regras do jogo.
Mas é mais chato quando o governante tenta tirar uma casquinha da disputa esportiva. O torcedor não gosta. Sente o cheiro do oportunismo. Foi o que o presidente tentou fazer com o jogo Brasil X Peru, na final da Copa América.
Bolsonaro foi convidado pela Conmebol para entregar as medalhas. Até aí, bem. Mas já havia entrado no campo na disputa contra a Argentina. Antes da final do Brasil contra o Peru, tentou associar a eventual vitória da Seleção Brasileira à sua gestão. O mesmo fez Sergio Moro, que o acompanhou ao estádio. Este, então, afirmou ser o jogo da Lava Jato em razão da investigação que há no Peru envolvendo o pagamento de propina a autoridades.
Houve também gritos de "mito" e aplausos. Mas em muito menor quantidade. Quando Bolsonaro saía de campo, depois da entrega da medalha, a vaia foi estrepitosa.
É um bom sinal, pouco importa o presidente. O campo não é lugar de fazer proselitismo político, ainda que oblíquo. E olhem que os ingressos da final custavam entre R$ 260 e R$ 800. Bolsonaro obtém seus maiores índices de aprovação entre os mais endinheirados. Segundo o mais recente Datafolha, 33% acham seu governo ótimo ou bom. Entre os que ganham mais de 10 mínimos, vai a 45%. Dada a renda brasileira, só por acidente se encontrava um pobre por lá. Mesmo assim, a vaia veio forte.
Como esquecer? Confortando o enrolado Sergio Moro, Bolsonaro o convidou para o estádio, afirmando que o povo diria quem está certo.
Se vaia ou aplauso definisse, então, quem está com a razão, o veredito teria sido contra o governo e seu presidente.
Mas, como já observei no programa "O É da Coisa", o estádio não prova nada. Lula levou uma vaia gigantesca no Pan em 2007 , e Dilma foi eleita com folga em 2010.
Estádio não é juiz. Se bem que, ultimamente, também essa frase deve ser posta em perspectiva, não é mesmo, Moro? O ministro, aliás, foi solenemente ignorado pela torcida. E olhem que eram pagantes que haviam desembolsado, no mínimo, R$ 260 para estar lá.
Se um dia o ingresso for vendido a R$ 2, Moro e Bolsonaro podem tentar um novo teste de popularidade…