General ignora virtudes cristãs e se diz uma soma de Davi, José e Salomão
A ida de Jair Bolsonaro à Câmara nesta quarta também marcou a estreia na ribalta, agora para valer, de Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo. Trata-se de um general da ativa.
Referindo-se a si mesmo, afirmou o militar:
"O presidente disse que já era hora de um ministro evangélico ir ao Supremo. Deus sabe das coisas. O presidente colocou um evangélico na articulação política".
Segundo Paulo, o apóstolo, a maior de todas as virtudes cristãs é a caridade. E a ela outras se associam, a saber: a mansidão, misericórdia, paciência, perseverança, justiça, fortaleza, magnanimidade, humildade, pureza, paz, obediência, piedade, prudência, castidade, modéstia, temor a Deus, amor e reverência à verdade.
O general disse coisas estranhas a esse universo. Ainda sobre as próprias virtudes, tonitruou o que nunca ouvi nem na boca de um judeu. E conheço muitos:
"Deus me deu a sabedoria de Salomão, a capacidade de articular e gerenciar de José do Egito e a força de um guerreiro que foi David".
Davi deve ser referência ao fato de que, em tese ao menos, foi treinado para as artes da guerra — é preciso saber quem ele considera o seu Golias. Salomão, bem…, aí o general se sente, de fato, um inspirado pela mente divinal. Não conheço seus Salmos, mas posso imaginar. Quanto a José do Egito, aí é preciso pensar… A personagem bíblica ficou famosa por ter interpretado um sonho do faraó e ter sugerido que se fizessem grandes reservas de mantimentos nos sete anos de fartura para, depois, enfrentar sete anos de seca.
A José coube administrar a distribuição e venda desses alimentos. Não entendi se, na secretara de Governo, o general está a dizer que vai distribuir mantimentos aos parlamentares na forma de emendas.
Uma coisa eu sei: alguém que se considera uma soma de Salomão, José e Davi está praticando coisa distinta da humildade e da modéstia.
Dadas as falas de Bolsonaro e de Ramos na Câmara, cheguei à conclusão de que estamos sendo governados pela soma do Velho e do Novo Testamentos.
Fosse assim, só nos restaria esperar o apocalipse.
Ainda bem que não é e que essa conversa toda não passa de um misto de vaidade, tolice e mistificação.
Até porque, que eu saiba, quando chefe do Comando Militar do Sudeste, o general Ramos treinava soldados para a guerra, não para a mansidão, a misericórdia e a paciência.
A propósito: se um dia esse governo for vencido nas urnas, o que é corriqueiro nas democracias, estaremos diante de uma derrota de Deus?