O que a Lava Jato diz em nota e o que ela silencia de extremamente grave
A força-tarefa da Lava Jato emitiu a seguinte nota. Comento em seguida.
"A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba não reconhece as mensagens que têm sido atribuídas a seus integrantes nas últimas semanas. O material é oriundo de crime cibernético e não pode ter seu contexto e veracidade confirmados. Mais uma vez, é divulgado como verdadeiro fato que jamais ocorreu. Nunca houve qualquer tipo de direcionamento de recursos da 13ª Vara Federal para campanha publicitária ou qualquer ato relacionado às 10 medidas contra a corrupção."
Comento
Como a reportagem deixa claro, o que se informa — com a reprodução do diálogo — é que Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, pediu recursos a Sergio Moro, então titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, e que o então juiz concordou em cedê-lo. A reportagem tomou o cuidado de observar:
"Nem importa saber se o dinheiro foi usado ou não, se a propaganda foi ao ar ou não. O que se tem é o titular da vara condescendendo com o uso ilegal de um dinheiro que, por óbvio, não lhe pertence".
Ademais, Dallagnol fala na "destinação de valores da Vara, daqueles mais antigos, se estiverem disponíveis". Que "valores mais antigos" são esses? A que dinheiro o procurador se refere? Como é que ele tem ciência de um "dinheiro mais antigo" que está sob a guarda da 13ª Vara Federal de Curitiba?
E A REUNIÃO?
Sim! A questão do dinheiro é grave. Mas ainda pior é a realização de uma reunião entre procuradores, juiz e Polícia Federal para decidir as novas etapas da operação.
Sobre isso, a força-tarefa prefere silenciar.
Que fique claro: a reunião viola a Constituição, o Código de Processo Penal, o Código de Ética da Magistratura e tratados internacionais de que o Brasil é signatário.
Vamos ver até quando a Lava Jato vai se sustentar na facilidade de afirmar que o material "é fruto de crime" e que "contexto e veracidade" não podem ser confirmados.
Os valentes poderiam dizer, claro!, "todos esses diálogos são mentirosos".
Ocorre que não podem fazê-lo sem saber o que vem por aí.
Quem andou meio torto em verões passados não pode se dar à ousadia de dizer que não desrespeitou a lei, não é mesmo?
Ah, sim: o filme foi feito.