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Reinaldo Azevedo

Deltan, o insaciável, decidiu também interferir na composição do Supremo

Reinaldo Azevedo

01/08/2019 06h26

Ministro Humberto Martins, do STJ e hoje corregedor do CNJ: Deltan se mobilizou para impedir a sua indicação ao STF  (Foto: Gustavo Lima/STJ)

Deltan Dallagnol é um rapaz ousado. Usou a delação da OAS para tentar barrar também a indicação de Humberto Martins, hoje corregedor do STJ, para o Supremo.

Tão logo o nome de Martins circulou como cotado para a vaga aberta com a morte de Teori Zavascki, o diligente investigador secreto de ministros de cortes superiores procurou, mais uma vez, Eduardo Pelella, o número dois de Rodrigo Janot. Seguem os diálogos:
27 de Janeiro de 2017
Deltan 16:31:38 Pelella, é importante o PGR levar ao Temer a questão do Humberto Martins, que é mencinoado na OAS como recebendo propina…
Deltan 16:32:00 Melhor checar antes o conteúdo do anexo, para lembrar certinho
16:32:06 Vou checar e já falo, aliás
Pelella 16:34:00 Beleza
Pelella 16:34:14 Deixa com "nós"
Pelella 16:34:20 Td certo por aí?
Deltan 19:54:32 Opa, tudo certo… e por aí?
Deltan 20:01:10 Não tá nos anexos, mas iriam entregar. Só não lembramos se era corrupção ou filho… vou ver se alguém lembra e qq coisa aviso, mas já cabe a ponderação pq seria incompativel

3 de fevereiro de 2017
Deltan 16:29:29 Pelella, não esquece por favor a questão do Humberto Martins do STJ (o nome dele continua cotado)

Informam a Folha e The Intercept:
Fazia cinco meses que as negociações com a OAS tinham sido encerradas. Como o acordo com a empreiteira não fora assinado nem homologado pela Justiça, as informações fornecidas por Léo Pinheiro durante as negociações não podiam ser usadas pelos investigadores.

O anexo com o relato sobre Martins só surgiu após a retomada das negociações, em março de 2017.

Segundo Léo Pinheiro, a OAS pagou R$ 1 milhão a um filho do ministro em 2013 para obter uma decisão favorável no STJ. Em janeiro deste ano, Martins disse à Folha que nunca atendeu pedidos da OAS e sempre se declarou impedido de julgar ações em que o filho atue.

Quando os procuradores voltaram à mesa de negociações com os advogados da OAS, Léo Pinheiro estava preso em Curitiba e se preparava para depor no processo em que incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o caso do tríplex de Guarujá (SP).

O acordo com o empreiteiro foi assinado no fim do ano passado, mas até hoje não foi encaminhado pela procuradora-geral, Raquel Dodge, ao Supremo para homologação. Sem isso, Pinheiro não pode sair da cadeia e receber os benefícios acertados com a Lava Jato.

MINISTRO ESTRANHA
Ouvido a respeito, segundo a reportagem, "o ministro Humberto Martins, do Superior Tribunal de Justiça, afirmou estranhar sua citação pela delação de Léo Pinheiro e disse que sempre decidiu contrariamente aos interesses da OAS e de seu ex-presidente, na maioria dos casos em decisões colegiadas."

Neste ponto, o leitor desavisado pode pensar: "Ah, vejam como Dallagnol estava sendo zeloso com a coisa pública".

Não!

Estava, de novo, praticando uma ilegalidade, uma vez que vazava dados de uma delação em curso que não estavam nem mesmo documentados.

Tentar emparedar dois ministros do Supremo com investigações ilegais lhe parecia pouco. Era preciso também influenciar a composição do STF.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.