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Reinaldo Azevedo

Será que pegamos mais no pé do “Mito” porque é presidente? Sim. É o certo!

Reinaldo Azevedo

05/08/2019 06h35

Bolsonaro durante culto da igreja Fonte da Vida. Na palma da mão, as palavras "Deus, família e Brasil". A família sempre foi contemplada em sua vida pública. A sua ao menos (Foto: Jorge William / Agência O Globo)

O presidente Jair Bolsonaro reagiu à reportagem de O Globo neste domingo.
"Que mania que todo parente de político não presta!? Eu tenho um filho que está para ir para os Estados Unidos e foi elogiado pelo Trump. Vocês massacraram meu filho, a imprensa massacrou, (chamou de) fritador de hambúrguer"

Em primeiro lugar, Eduardo Bolsonaro SE chamou de fritador de hambúrguer, o que é um resumo justo do seu currículo para ser embaixador.

Em segundo lugar, além de ser, por óbvio, imoral ficar empregando parentes em penca, há outra questão essencial: há evidências de que um monte de gente jamais deu as caras no suposto trabalho, reforçando a suspeita de que se tratava de funcionários fantasmas. E com altos salários.

Em terceiro lugar, não pega bem a um privatista radical, que passou a acreditar que regras e leis trabalhistas sufocam a iniciativa privada e provocam desemprego, pendurar a família e agregados em sinecuras estatais — na hipótese, claro!, de que aquelas pessoas recebiam, elas mesmas, os salários.

Em quarto lugar, um elogio de Trump não tem o poder de silenciar a crítica nem nos Estados Unidos.

Ele foi além:
"Já botei parentes no passado, sim, antes da decisão de que nepotismo seria crime. Qual é o problema?"

As coisas estão mal colocadas. A Súmula Vinculante nº 13 do Supremo, com efeito, veta o nepotismo. Mas a questão moral já existia antes dela. O Caput o Artigo 37 da Constituição estabelece:
"A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade"

Antes de qualquer súmula, empregar sogro, sogra, sobrinho e outros parentes em serviço público — quando a única qualidade para exercê-lo é o parentesco — agride os fundamentos da impessoalidade e da moralidade, não é mesmo presidente?

Bolsonaro ainda sugere que estão pegando no seu pé só porque ele é presidente. Em parte, tem razão. Ocorre que tem de ser assim. O nepotismo é feio em qualquer caso e é pauta constante da imprensa. E todos os políticos estão submetidos a esse crivo.

Se o caso do presidente, agora, tem mais relevância, isso se dá justamente porque ele estar onde está. Só há um. E ninguém pode tanto no país.

De fato, como estamos vendo, enquanto a Família Bolsonaro era apenas um clã do baixo clero, ninguém dava muita bola. Talvez tenha sido um erro. Como estamos vendo, a turma pintava o sete.

Bolsonaro, por óbvio, tem de continuar sob estrita vigilância porque é presidente da República.

Mas o que vem a público indica que deveríamos ter tentado saber antes o que fazia a família no escurinho dos gabinetes.

Depois de deixar o Palácio do Alvorada, Bolsonaro foi à Igreja Fonte da Vida, em Brasília, onde participou de um culto. Lá, fez um discurso e exibiu a mão com uma cola que trazia três palavras: "Deus, família, Brasil". Já pensaram se ele esquece? 

É discutível se Deus e o Brasil estão ganhando com o seu mandato. Uma coisa é certa: ele nunca esqueceu da família. No caso, da sua.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.