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Reinaldo Azevedo

Congresso tem reação maiúscula a destrambelhamento da Lava Jato contra Lula

Reinaldo Azevedo

08/08/2019 07h01

O desespero é sempre um péssimo conselheiro. E o lava-jatismo está desesperado porque se desmoraliza a cada dia.

Todas as togas de Brasília e do país sabem que a juíza Carolina Lebbos, que determinou a absurda e extemporânea transferência do ex-presidente Lula da PF de Curitiba para o presídio de Tremembé, em São Paulo, é uma aliada de Sergio Moro, agora ministro da Justiça, e, mais amplamente, da Lava Jato.

A decisão de transferir Lula caiu muito mal no Congresso Nacional, que deu provas de que ainda respira institucionalmente. Protestos se fizeram ouvir na Câmara e no Senado. E oriundos dos mais diversos partidos — de esquerda e de direita.

Pelo menos 70 parlamentares, entre deputados e senadores, foram ao Supremo para se encontrar com Dias Toffoli, presidente da Casa. O tom era de indignação. Segundo informa a Folha, lá estavam parlamentares do PT, PC do B, PSOL, PDT, PSD, Solidariedade, PRB, MDB e Cidadania.

"Apesar de nunca ter votado nele, acho que [Lula] é um ex-chefe de Estado e merecia um outro tratamento", afirmou Joaquim Passarinho (PSD-PA) na Câmara. O protesto foi endossado pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que pôs a Presidência, como disse, à disposição da garantia dos direitos do ex-presidente.

"O que a Justiça fez hoje, eu quero aqui condenar publicamente. Não se justifica retirar o ex-presidente Lula de Curitiba e levar para Tremembé. Isso é humilhação; esta juíza deveria repensar os seus atos. Perseguição, eu não aceito com ninguém, seja de direita ou de esquerda", disse José Nelto (GO), líder do Podemos.

"Um verdadeiro absurdo", qualificou Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG).

Na reunião com Toffoli, o tom não foi diferente.

"Sabemos que existe ilegalidade nessa decisão [de transferir Lula]", afirmou Marcos Pereira (PRB-SP).

"Essa decisão da juíza não é justa, mas visa humilhar, visa dar oportunidade para a imprensa fotografar o ex-presidente uniformizado, com a cabeça raspada. Não estamos aqui nem pela esquerda nem pela direita. Estamos aqui pelo direito", disse Fábio Trad (PSD-MS).

Essas manifestações, meus caros, são mais importantes do que parecem. Isso significa que o Parlamento brasileiro não se deixa mais aterrorizar pela Lava Jato porque percebe que a facção da força-tarefa que se dedicava ao terrorismo institucional está desmoralizada.

Pior: não era convicta nem mesmo de seu moralismo autoritário, uma vez que a operação se transformou, como resta claro, num meio de vida e num instrumento para a conquista do poder.

SUPREMO
Não menos importante foi o resultado da votação no Supremo. Por 10 votos a 1, os ministros sustaram a transferência. E, ainda assim, o voto divergente, do ministro Marco Aurélio, não tinha relação com o mérito. Tratava-se de uma restrição de natureza formal.

Falhou de forma miserável e irremediável o truque para tentar retirar, vamos dizer, a atenção da opinião pública dos descalabros sobre a Lava Jato que estão vindo a público.

O clima, também entre os ministros do Supremo, era de surpresa e estupefação. Nem os notórios Torquemadas ousaram condescender com a arruaça que a Lava Jato pretendeu fazer. Dias Toffoli tinha a intenção de sustar ele mesmo a transferência, mas ministros o convenceram de que a decisão colegiada teria mais força e passaria um recado aos destrambelhados.

E assim foi feito.

Tratou-se de um formidável tiro no pé.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.