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Reinaldo Azevedo

Lava Jato agora faz requebros à esquerda e usa Flávio para atacar Bolsonaro

Reinaldo Azevedo

28/08/2019 17h28

No Facebook, uma das estrelas da Lava Jato tenta usar Flávio Bolsonaro para fazer acenos às esquerdas

Fogo!

Fogo no parquinho!

Agora o lava-jatismo faz requebros febris às esquerdas para ver se consegue se livrar da indigência intelectual, institucional e jurídica que promove.

E tenta usar o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o Zero Um, como espantalho.

A tese é a seguinte: a situação difícil por que passa a Lava Jato, perseguida apenas por seu passado de desmandos, seria fruto de uma grande conspiração para livrar a cara de Flávio e evitar que se exponham suas supostas ligações com as milícias do Rio.

É mesmo?

Mais um pouco, vão dizer que The Intercept Brasil e este escriba estão juntos com Bolsonaro pai e Bolsonaro filho…

Falo por mim: os que, neste domingo, foram defender a Lava Jato, pregar o impeachment de ministros do Supremo e manifestar apoio ao "nosso presidente Bolsonaro" demonizaram este escriba em cima do caminhão.

Por que, por exemplo, o tal movimento "Nas Ruas" e o "Vem Pra Rua" não vão, então, às ruas fazer o que faz, vejam abaixo, o procurador Carlos Fernando, segundo quem a origem do mal-estar da operação está na tentativa de salvar Flávio?

Coragem, valentes!

Vejam o que escreveu Carlos Fernando no Facebook:

"O que está acontecendo é simples: 1. Bolsonaro, para proteger o filho, escolhe para PGR alguém sem compromisso com a instituição; 2. Intimidam juízes e procuradores com sanções em conselhos que estão sob ordens de senadores envolvidos em irregularidades; 3. Criam crimes que vão obrigar juízes e procuradores a se defenderem se fizerem sua obrigação; 4. Mudam as leis em um pacote anti-lava jato, com o objetivo de que investigações dessa natureza nunca mais aconteçam; 5. Os tribunais superiores voltam a achar nulidades inexistentes para anular investigações; 6. Cria-se um falso escândalo para assassinar reputações de quem ousou enfrentar o sistema. Simples assim. Vergonhoso assim."

É mesmo, Carlos Fernando?

Peça apoio aos ditos "movimentos" que foram, neste domingo, jogar tomate na imagem de ministros do Supremo e ao subjornalismo que lhes dá suporte para uma campanha em favor da punição a Flávio, ora essa!

Então vocês apelam a quem chama o presidente de "Mito" e depois querem usar seu filho como motivo para uma mobilização em defesa da Lava Jato??? Que coisa feia! Além de desleal, é um pouco covarde, também, não é mesmo?

Que foi? Briga no vestiário?

No programa "Globonews Painel", esse mesmo Carlos Fernando confessou com todas as letras:
"Infelizmente, no Brasil, nós vivemos um maniqueísmo, né? Então nós chegamos… Inclusive, no sistema de dois turnos, faz com que as coisas aconteçam dessa forma. É evidente que, dentro da Lava Jato, dentro desses órgãos públicos, de centenas de pessoas, existem lava-jatistas que são a favor do Bolsonaro. Muito difícil seria ser a favor de um candidato que vinha de um partido que tinha o objetivo claro de destruir a Lava Jato. (…) Então nós vivemos este dilema: entre a cruz e a caldeirinha; entre o diabo e o coisa ruim, como diria o velho Brizola. Nós precisamos parar com isso. Nós realmente temos que ter opções. Infelizmente, um lado escolheu o outro. E, naturalmente, na Lava Jato, muitos entenderam que o mal menor era Bolsonaro. Eu creio que essa era uma decisão até óbvia, pelas circunstâncias que Fernando Haddad representava justamente tudo aquilo que nós estávamos tentando evitar, que era o fim da operação. Agora, infelizmente, o Bolsonaro está conseguindo fazer".

Agora querem cuspir no prato em que comeram e em que deram de comer?

Não, não, doutor! Algum esquerdista burro até pode cair na sua conversa. Os direitistas burros já caíram. Mas, como se viu nas ruas, são uma crescente minoria, não é mesmo?

O bolsonarismo pode até estar tentando livrar a cara do clã que lhe serve de guia. Problema deles. Aos defensores do estado de direito — grupo no qual me incluo, e não sou de esquerda, como se sabe —, interessa o resgate do devido processo legal e das garantias constitucionais, que vocês tão gostosamente violaram.

E isso há de valer para quem é Flávio e para quem não é.

Não venham agora tentar ganhar adesões para o estado policial que vocês tentaram criar usando o filho do presidente como espantalho.

Em seu Twitter, Deltan Dallagnol, que ainda está no jardim da infância do debate ideológico, saiu-se com a máxima de que, se é criticado pela esquerda e pela direita, então está no caminho certo, então é isento e independente.

É uma besteira típica do pensador primitivo que ele é. Não lhe ocorreram ao menos duas outras possibilidades, entre outras: os dois lados podem estar certos, cada um à sua maneira; todos podem estar errados, inclusive ele próprio.

Convoque uma marcha, Carlos Fernando, defendendo a tese de que tudo isso está aí só para livrar Flávio da investigação.

Mas não se esqueça de indagar antes o que pensa o real coordenador da força-tarefa, o agora ministro da Justiça Sergio Moro. Até onde sei, é subordinado ao pai de Flávio, não?

A propósito: ele também faz parte da conspiração?

Vocês se perderam! E isso é bom para o Brasil e para o combate à corrupção, que tem de reencontrar o caminho das leis.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.